Maia acusa Heleno de “ataque abusivo”
Foto: Leo Pinheiro/Valor
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), demonstrou nesta sexta-feira (22), em live organizada pela Record, não ter se surpreendido por declarações agressivas feitas por ministros durante reunião ministerial com o presidente Jair Bolsonaro, no dia 22 de abril, que teve seu vídeo divulgado. A conversa ocorreu poucos minutos após a divulgação do vídeo e o parlamentar do DEM reconheceu ainda não ter visto o vídeo e apenas ter lido a repercussão na imprensa.
“Talvez, o que a gente vê na imprensa, os comentários, alguma colocação de um ou outro ministro, de uma forma mais agressiva. Aliás, têm alguns ministros que não precisam de reunião reservada para ser agressivo e nem atacar as instituições. Isso já se faz há algum tempo, principalmente o ministro da Educação e o ministro da GSI, general Heleno. São ministros que têm uma mania do enfrentamento, do ataque, até abusivo em alguns momentos em relação às instituições”, disse Maia.
Em um dos trechos do vídeo da reunião ministerial, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que aceitou participar do governo para “acabar com essa porcaria que é Brasília”, que, segundo ele, é “um cancro de corrupção, de privilégio”. Ele disse ainda que, se dependesse dele, colocaria “esses vagabundos todos na cadeia”, começando no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao defender a divulgação do conteúdo do vídeo, Maia disse que as decisões do STF devem ser respeitadas e destaca que todos que estão sob investigação normalmente criticam o que chamam de excesso. Bolsonaro e alguns ministros defendiam que o conteúdo fosse preservado e que só se tornasse público o que interessasse às investigações sobre a suposta interferência do presidente no comando da Polícia Federal.
Ele lembra que essas mesmas pessoas que classificam a divulgação do vídeo dessa maneira não criticaram investigações que atingiram governos anteriores. Ele se referiu à divulgação determinada pela Justiça de uma conversa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então presidente Dilma Rousseff, em 2016.
“Acho que todo mundo quando sofre uma investigação, com mais transparência, geralmente faz críticas, reclama que há um excesso. Mas ninguém olha o passado”, afirmou Maia. “No passado, quando seus adversários foram investigados, que veio a público, por exemplo, no caso das conversas do presidente Lula com a presidente Dilma, eu não vi ninguém do nosso campo, me coloco nesse campo de oposição ao governo da presidente Dilma, criticando a decisão”, acrescentou.
Durante a live, o presidente da Câmara fez críticas ao ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, após o auxiliar de Bolsonaro ter afirmado, em nota, que a eventual apreensão do celular do chefe do Poder Executivo seria “inconcebível” e teria “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. A fala de Heleno era uma referência ao fato de o ministro Celso de Mello, do STF, ter encaminhado à PGR notícias-crimes em que partidos pedem a apreensão do celular do presidente.
“A própria nota do ministro Heleno é muito ruim, ameaçando. Não é esse o caminho. Nós vivemos em uma democracia. Se achou que o encaminhamento do Celso de Mello é tão grave assim, peça uma audiência”, disse Maia, sugerindo que uma conversa entre o ministro da Justiça e da Segurança Pública, André Mendonça, e o magistrado poderia ter efeito melhor do que “uma ameaça por nota ao STF”. “Essa ameaça por nota só afasta o STF do governo e cria mais instabilidade no momento de hoje”, completou.
A postura de Heleno, na avaliação de Maia, cria um ambiente de insegurança para investidores estrangeiros no país.