Molon: quem avisou Bolsonaristas de ação contra Witzel?
Foto: Leonardo Prado/Agência Câmara/VEJA
O líder do PSB na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (RJ), disse em sua conta no Twitter na manhã desta terça-feira (26) que recorrerá ao Ministério Público Federal (MPF) para que o órgão investigue o suposto vazamento da operação Placebo, deflagrada pela Polícia Federal, à deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). A operação foi desencadeada para apurar indícios de desvios de recursos públicos destinados à saúde por conta da pandemia do novo coronavírus, e que tem como um dos alvos o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).
Vamos representar ao MPF para que investigue para quem a operação contra Witzel foi vazada! Denúncias de desvios devem ser investigadas, mas como a aliada do presidente adiantou o fato? Sinal de que as interferências de Bolsonaro já são realidade. A PF não pode ser aparelhada!
— Alessandro Molon (@alessandromolon) May 26, 2020
Em outra publicação, o deputado citou diretamente a entrevista de Zambelli à Rádio Gaúcha nessa segunda-feira, 25. “A gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali, na agulha, para sair, mas não saíam. E a gente deve ter, nos próximos meses, o que a gente vai chamar, talvez, de ‘Covidão’ ou de… não sei qual vai ser o nome que eles vão dar… mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”, disse a parlamentar na ocasião.
“Ontem, à Rádio Gaúcha, Carla Zambelli anunciou que haveria operações da PF contra governadores. Hoje, a polícia está na casa de Witzel. Como uma deputada tem essas informações? Isso é mais uma prova da interferência. Era para isso que Bolsonaro queria trocar Valeixo?”, escreveu Molon.
A deputada negou ter recebido informações privilegiadas da Polícia Federal. Usando suas redes sociais, Zambelli respondeu a uma postagem da deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) que afirmava que “as relações do governo Bolsonaro e a PF estão cada vez mais promíscuas”.
“A deputada federal Carla Zambelli saber antecipadamente de operações da Polícia Federal “contra governadores” é grave. Como a deputada sabe? E por que ela sabe?”, escreveu Petrone. Em resposta, Zambelli negou qualquer envolvimento e chamou a colega parlamentar de “defensora de maconheiro”. “Se eu tivesse informações privilegiadas e relações promíscuas com a PF, a operação de hoje seria chamada de “Estrume” e não “Placebo”. Está aí sua explicação, defensora de maconheiro.”
Se eu tivesse informações privilegiadas e relações promíscuas com a PF, a operação de hoje seria chamada de “Estrume” e não “Placebo”.
Está aí sua explicação, defensora de maconheiro.
— Carla Zambelli (@CarlaZambelli38) May 26, 2020
Após a discussão entre as deputadas, os termos “Carla Zambelli”, “Covidão” e “Estrume” ficaram entre os mais comentados do Twitter. Políticos aliados e opositores ao governo passaram a se posicionar sobre a suposta antecipação a Zambelli.
Um deles foi a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP). Em uma série de tuítes, Paschoal defendeu a deputada federal de seu partido, argumentando que o termo usado na entrevista (“covidão”) já vinha sendo usado pelos apoiadores do presidente, não indicando necessariamente um vazamento de informações.
O direito de defesa é sagrado. O governador do RJ utiliza essa narrativa para exercer o seu, mas eu não vejo na fala da Deputada nenhum tipo de antecipação. Vamos aguardar as apurações. A ação não partiu da PF, mas do STJ.
— Janaina Paschoal (@JanainaDoBrasil) May 26, 2020
Entre os que cobraram explicações sobre a fala da deputada na entrevista foi Marcelo Freixo (PSOL-RJ). “O fato da deputada bolsonarista Carla Zambelli saber de uma operação sigilosa da PF contra um governador de oposição mostra que estamos diante de uma primeira experiência de polícia política em um governo autoritário e golpista. A PF não é guarda presidencial.”
O fato da deputada bolsonarista Carla Zambelli saber de uma operação sigilosa da PF contra um governador de oposição mostra que estamos diante de uma primeira experiência de polícia política em um governo autoritário e golpista. A PF não é guarda presidencial.
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) May 26, 2020
O deputado Rui Falcão (PT-SP) também cobrou explicações sobre o suposto vazamento de informações, considerando gravíssimo a antecipação. “Gravíssimo. Carla Zambelli, aliada de Bolsonaro, antecipou que haveria operação da PF contra governadores. Hoje, a Polícia amanheceu na residência oficial do governador do RJ, Wilson Witzel. Como a deputada sabia dessa informação?”.
Gravíssimo
Carla Zambelli, aliada de Bolsonaro, antecipou que haveria operação da PF contra governadores. Hoje, a Polícia amanheceu na residência oficial do governador do RJ, Wilson Witzel.
Como a deputada sabia dessa informação?
— Rui Falcão (@rfalcao13) May 26, 2020
Quem saiu em defesa de Zambelli foi o Presidente Nacional do PTB e aliado recente do presidente da República, Roberto Jefferson. “Não há nada na fala da deputada Carla Zambelli que remeta ao anúncio antecipado de operação da PF. É uma fala genérica. Na verdade eu fui o primeiro a falar no escândalo do Covidão, há mais de um mês”, escreveu.
Não há nada na fala da deputada Carla Zambelli que remeta ao anúncio antecipado de operação da PF. É uma fala genérica. Na verdade eu fui o primeiro a falar no escândalo do Covidão, há mais de um mês, na entrevista ao @oswaldojor Oswaldo Eustáquio. Vejam lá.
— Roberto Jefferson (@blogdojefferson) May 26, 2020
Alvo da operação, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), divulgou uma nota na qual afirma que “a interferência anunciada pelo presidente da República está devidamente oficializada”.
“Estranha-me e indigna-me sobremaneira o fato absolutamente claro de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará”, disse Witzel.