O “não me deixem só” de Bolsonaro

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Foto: Reprodução

Após o ministro da Saúde, Nelson Teich, ter alertado sobre riscos da cloroquina no tratamento da covid-19, o presidente Jair Bolsonaro fez uma defesa do remédio nesta quarta-feira (12) e disse que os ministros de seu governo devem estar “afinados” com ele.

Bolsonaro foi questionado por jornalistas, na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada, sobre o posicionamento do ministro. O presidente ressaltou que ministros são indicações políticas dele.

“Olha só, todos os ministros, eu já sei qual é a pergunta, têm que estar afinados comigo. Todos os ministros são indicações políticas minhas e quando eu converso com os ministros eu quero eficácia na ponta. Nesse caso, não é gostar ou não do ministro Teich, é o que está acontecendo”, afirmou Bolsonaro para jornalistas na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada.
Desde os primeiros dias após o país começar a registrar casos de covid-19, Bolsonaro alardeia a cloroquina como uma alternativa para o combate à doença. O remédio é usado comumente para tratamento de malária. Ainda não há evidências científicas que apontem a eficácia em casos de infecções por coronavírus.

Teich escreveu em sua conta no Twitter na terça-feira (12) que a cloroquina apresenta efeitos colaterais e que a prescrição deve ser feita em comum acordo entre paciente e médico. Um dos principais efeitos colaterais do remédio são complicações cardíacas.

“Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o “Termo de Consentimento” antes de iniciar o uso da cloroquina”, afirmou o ministro.
Na saída do Alvorada, o presidente disse ainda que vai conversar nesta quarta com Teich para ser alterado o protocolo do Ministério da Saúde, que atualmente prevê a prescrição de cloroquina apenas para os casos graves. O presidente quer que o remédio seja usado desde o início do tratamento.

“Nós estamos tendo centenas de mortes por dia. Se existe uma possibilidade de diminuir esse número com a cloroquina, por que não usar? Alguns falam que pode ser placebo. Pode ser. Você não sabe. Mas pode não ser também. A gente não pode, por exemplo, falar: ‘Ah, se tivesse usado a cloroquina lá atrás, teria salvo milhões de pessoas. Só isso”, disse o presidente.

Estudos não veem eficácia
Duas pesquisas internacionais realizadas com mais de 1.300 pacientes mostraram que a cloroquina e a hidroxicloroquina não têm eficácia contra a covid-19.

Um estudo dos EUA revelou que a taxa de mortalidade dos tratados com cloroquina foi semelhante à dos que não tomaram a droga, assim como à das pessoas que receberam hidroxicloroquina combinada com o antibiótico azitromicina – este segundo grupo, ainda, teve duas vezes mais risco de sofrer parada cardíaca.

Outro estudo americano concluiu que pacientes com e sem o tratamento com hidroxicloroquina apresentaram o mesmo risco de uma piora do quadro, de necessidade de entubação e de morte.

A cloroquina ganhou projeção como possível solução para o coronavírus após a publicação de um estudo na França, em meados de março. Mas pesquisadores criticaram a metodologia e também o grupo reduzido de pacientes.

Ministro da Secretaria de Governo se ‘equivocou’
Bolsonaro voltou a repetir que não falou as palavras “Polícia Federal” na reunião de 22 de abril, diferentemente do que afirmou o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) em depoimento na terça-feira (12) como testemunha no inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal.

“O Ramos se equivocou. Mas como é reunião, tem o vídeo. O Ramos, se ele falou isso, se equivocou. Se ele falou isso aí”, disse Bolsonaro.

No depoimento de terça, questionado sobre a reunião, Ramos afirmou que: “Por duas vezes, ouviu o presidente da República reclamar da necessidade de ter mais dados de inteligência para a tomada de decisões e que, contudo, na reunião do dia 22 de abril, nominou os órgãos Abin, Forças Armadas, Polícia Federal, Polícia Militar dos estados e, se outros foram mencionados, não se recorda”.

Na entrevista desta quarta, Bolsonaro disse que não citou na reunião os termos “Polícia Federal”, “superintendência” e “investigação sobre filhos”.

De acordo com o presidente, ele falou sobre a segurança da família, que compete ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e não ao Ministério da Justiça, que na reunião ainda era comandando por Moro. Bolsonaro também afirmou não ter falado o nome de Moro na reunião.

“Não falei o nome dele no vídeo (de Moro). Não falei o nome dele no vídeo. Não existe a palavra Sérgio Moro. Eu cobrei a minha segurança pessoal no Rio de Janeiro. A PF não faz minha segurança pessoal, quem faz é o GSI”, disse.

Questionado se na reunião insinuou substituir os titulares da Justiça ou do GSI, o presidente disse: “tá na cara. quem trata de segurança? O ministro é o Heleno. O ministro é o Heleno”. O presidente não quis detalhar se cogitou demitir Heleno.

G1