Outro movimento “renovador” pede impeachment de Bolsonaro
Foto: Sergio Lima/AFP
O Acredito, movimento suprapartidário de renovação política, passou a defender o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, diante da crise política que assola o país durante a pandemia do novo coronavírus. O grupo sugere que as instituições atuem prioritariamente para mitigar os efeitos da epidemia no Brasil, mas afirma que a postura do presidente da República representa um risco ao estado democrático de direito e à saúde pública.
Em nota enviada a VEJA, o Acredito afirma que um processo de impeachment criaria “desgastes” e tiraria “o foco do debate público que deveria estar totalmente voltado para as questões de saúde”, mas ressalta que decidiu apoiar a destituição do presidente da República em razão de sua participação em “manifestações com forte apelo antidemocrático e ao tentar interferir em investigações sérias da Polícia Federal para blindar seus familiares de investigações”. “Entendemos que o presidente cometeu vários crimes de responsabilidade”, diz outro trecho da nota.
Quatro parlamentares da atual legislatura integram os quadros do movimento Acredito. São eles: o deputado federal Felipe Rigoni (PSB-ES), a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), e o deputado estadual Renan Ferreirinha (PSB-RJ).
“Nosso trabalho agora é mostrar à população os perigos que Jair Bolsonaro representa, bem como os crimes de responsabilidade cometidos por ele. O impeachment só faz sentido se for entendido e apoiado por uma ampla coalizão da sociedade civil, com diferentes visões do espectro político. Há necessidade de união, apesar das diferenças políticas, em defesa da democracia”, disse Alessandro Vieira a VEJA. “É necessário desmistificar a conduta de Bolsonaro. O homem que discursa em cima de uma caminhonete, condenando o que chama de velha política, é o mesmo que grava vídeo com Arthur Lira [deputado federal, líder do Progressistas na Câmara], que entrega cargos ao Centrão”, acrescenta o senador.
Reportagem de VEJA desta semana mostra que os atropelos à Constituição e à democracia sinalizados com frequência por Jair Bolsonaro acenderam o sinal amarelo no universo político. A cada novo passo que o presidente dá rumo à radicalização, articulações se intensificam nos bastidores para formar uma frente ampla e suprapartidária em defesa das instituições. São diálogos capazes de aproximar nomes tão antagônicos, como o ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, que dividiram o mesmo palanque desde 1989, quando o tucano apoiou o petista na eleição presidente contra Fernando Collor, no ato virtual em comemoração ao Dia do Trabalho.
Ministro da Cultura durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), o deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ), membro de outros dois movimentos de renovação política, o Livres e o Agora!, afirma que a Câmara dos Deputados deve se posicionar de maneira mais enfática em resposta à escala autoritária promovida por Bolsonaro. Na sua avaliação, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deve autorizar a abertura do processo de impeachment ou permitir a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar acusações feitas contra o presidente da República.
“O presidente Rodrigo Maia talvez não tenha entendido o seu papel neste cenário. A impressão que tenho é que se espera que Bolsonaro vá amainar a situação, vá recuar, mas isto não vai acontecer. Bolsonaro só vai escalar esta crise. Não são apenas bravatas. Ele tem um projeto autoritário. Neste sentido, Maia tem que abrir o processo de impeachment ou, pelo menos, autorizar a instalação de uma CPMI. Caso contrário, ele sufoca a oposição. Maia precisa mostrar um caminho a ser seguido, assim como fez a Procuradoria-Geral da República, o Supremo Tribunal Federal. O que a Câmara tem feito? Precisamos dar uma resposta”, disse a VEJA.
Na avaliação de Calero, o fato de a quarentena inviabilizar manifestações de rua contra o governo Bolsonaro reforça o protagonismo a ser seguido pelo Legislativo. “A ausência de rua só reforça que nessa discussão de impeachment, ao contrário das outras vezes, como com Collor e Dilma, precisemos entender a responsabilidade que a Constituição nos dá. Estamos subindo de patamar [nesta crise], há uma marcha da insensatez em voga, e lamento que não possamos ter uma discussão madura e séria a este respeito. Estamos tentando colocar panos quentes em uma situação clara de deterioração das instituições e do Estado Democrático de Direito”, afirmou.