Pessoas que furam quarentena comentam atitude
O fluxo de pedestre aumentou visivelmente na região central da capital paulista, desde a quarentena decretada pelo governo estadual, em 24 de março. A reportagem percorreu ruas e avenidas do centro, comparando como estava a movimentação no início da quarentena com o atual momento. A diferença é clara: há mais gente nas ruas.
A funcionária pública Isabel Cristina Santos, 49, interrompeu pela primeira vez seu isolamento social nesta quinta-feira (30), pois foi realizar um exame médico, perto do terminal de ônibus Parque Dom Pedro 2º, no centro.
De máscara, ela afirmou ter ficado assustada ao ver muitos pedestres circulando pela região. “Não acreditei em meus olhos. Se soubesse que seria assim, nem teria saído de casa”, afirmou, perto da rua General Carneiro, na qual caminhavam, por volta das 14h, mais de cem pessoas, segundo apurado pela reportagem.
O pintor Wellington Almeida, 33, foi até uma agência da Caixa Econômica Federal, na avenida Paulista, com o intuito de fugir de aglomerações em Guaianases (zona leste), onde mora. Sem máscara, ele se assustou com o fluxo de pedestres no centro, quando foi receber a primeira parcela do auxílio emergencial de R$ 600, paga pelo governo federal.
“Pensei que ia fugir de aglomeração em Guaianases, mas acabei trombando com outra aqui na Paulista”, lamentou. Ele garantiu respeitar a quarentena, saindo somente para fazer compras no mercado perto de sua casa.
O cozinheiro Rafael Campos, 25, voltou a trabalhar nas duas últimas semanas, na Vila Mariana. (zona sul), após o término das férias, que passou em casa.
Com o salário e carga de trabalho reduzidos pela metade, ele afirmou também se assustar com o fluxo de veículos e pessoas nas ruas. “Saio de casa [na República, centro] e vou para o trabalho e dele para casa. Neste meio tempo, percebi que aumentou e muito a quantidade de gente circulando.”
O executivo de contas Fernando Aparecido Batista, 42 anos, ficou isolado em casa somente na primeira semana da quarentena. Depois retomou a sua rotina, em uma agência bancária na avenida Paulista. “Tem muita gente na rua, principalmente nos últimos 15 dias”, compartilhou. ”,
Medo e indiferença
A auxiliar de limpeza Débora Souza Cruz, 36 anos, aguardava em um ponto de ônibus na região da Vila Mariana (zona sul), por volta das 16h desta quinta (30), do qual voltaria para casa, em Guaianazes (zona leste da capital paulista).
Ela afirmou ter notado o aumento no fluxo de carros e pedestres na cidade, nos últimos 15 dias. “Isso assusta, pois me sinto exposta [à Covid-19]. Só estou na rua pois preciso ir trabalhar”, se justificou. Ela afirmou ir um dia sim, outro não, a um condomínio residencial na zona sul para fazer a limpeza do local.
Quando retorna para casa, em um ônibus que pega na avenida 23 de Maio, ela afirmou sentir medo, por causa do desleixo de algumas pessoas. “Eu tento me prevenir usando máscara e álcool gel, mas tem gente que não está nem aí, não se protege e expõe o resto do povo a riscos”, afirmou.
Diferentemente de Débora, o técnico em suporto de telecom Matheius Alves, 21, afirmou não se sentir exposto à Covid-19. Ele mora na Mooca (zona leste) de onde vai diariamente à Vila Mariana, para trabalhar presencialmente. “Eu optei por não ficar de quarentena, pedindo para ir todos os dias trabalhar na empresa. Não consigo ficar preso dentro de casa”, admitiu.