Racista da Fundação Palmares afronta movimentos negros
Foto: Pedro Ladeira – 6.mai.2010/Folhapress
Sérgio Camargo, escolhido por Jair Bolsonaro para o cargo de presidente da Fundação Palmares, escolheu o 13 de maio para prestar homenagem à princesa Isabel e para “revelar a verdade” sobre Zumbi no site da instituição. Ele promete conteúdo sobre os dois nesta quarta-feira (13).
A data escolhida, dia em que a Lei Áurea completa 132 anos, tem objetivo de polemizar com os movimentos negros, que exaltam em contraste o 20 de novembro, data da morte de Zumbi e Dia da Consciência Negra.
Camargo já chamou Zumbi de “falso herói” em outras ocasiões e já exaltou a figura da princesa, cuja importância é relativizada por boa parte das lideranças negras.
A comemoração do 13 de maio é criticada por não ter implicado em libertação de fato da população negra, que não teve oportunidades de inserção social na sequência da abolição.
“O 13 de maio como dia da libertação é uma mentira cívica, como dizia Abdias do Nascimento, e conta com o cinismo escravocrata que é a marca da elite brasileira”, afirma Douglas Belchior, historiador e membro da Uneafro Brasil.
“O movimento negro desconstrói essas ideias do dia da libertação e da princesa Isabel como libertadora e redentora. Não ignoramos o 13 de maio. Nós o reivindicamos como um dia para refletirmos sobre a mentira construída, sobre a abolição inacabada. A população negra continua estruturalmente no mesmo lugar em que estava no dia seguinte à abolição”, completa.
Descendente da princesa, o deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP) apoia a iniciativa de Camargo e diz que é bem vinda, independentemente de qualquer viés ideológico.
“Recontam a história de maneira fantasiosa e deturpada. Zumbi dos Palmares era escravagista. Não era como explorador, grande fazendeiro. Mas que ele tinha escravos, tinha. E que tinha vida conturbada no seu contexto tribal, tinha”, diz.
Perguntado sobre o que seria o contexto tribal, ele explica.
“Qual é a tradição tribal dos índios antes do século 20? Canibalismo, infanticídio, incesto. Tudo isso é contexto tribal. Negar isso, dizer que é bom e que a civilização ocidental é ruim ao definir o papel do pai e da mãe de maneira segmentada, é o grande combate que enfrentamos agora”, completou.
Sobre a princesa, ele diz que “não há como construir que a princesa Isabel foi opressora de movimentos negros. É uma construção absurda e contrária àquilo que foi a realidade.”