Bolsonaro fechou a matraca por medo

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Foto: Reprodução/ Uol

Quem tem Fabrício Queiroz como amigo tem medo. E quem tem Frederick Wassef como ex-advogado, convenham, também.

Jair Bolsonaro, no momento, conta com duas fontes de preocupação. Além de Fabrício, o ex-faz-tudo do agora senador Flávio Bolsonaro, há também o advogado, que já deu mostras eloquentes de ser vaidoso e meio falastrão. Gente assim pode ser perigosa se sente o ego ferido.

Já deu para perceber o peso que tem na moderação do discurso presidencial a questão, não é mesmo? Até a prisão de Fabrício, Bolsonaro dava uma solene banana para a crise e dedicava seu tempo livre — que parece ser imenso — a uma guerra com os outros dois Poderes da República — muito especialmente com o Judiciário. E lá vinha ele, dia após dia, com a conversa mole do golpe, no que era secundado, ainda que com um pouco mais de cuidado, pelos generais do Planalto.

Mas Fabrício Queiroz o fez engolir a língua. Afinal, o amigo do presidente tem uma preocupação adicional: sua mulher, Márcia Oliveira de Aguiar, com prisão preventiva decretada, é hoje uma foragida. Queiroz leva todo jeito de que é resiliente, de que pode tentar agasalhar o foguete, preservando Bolsonaro, Flávio e assemelhados. Mas ninguém tem a mesma certeza sobre Márcia. Enquanto estiver solta, é um problema. Se presa, idem. Não existe alternativa boa para o presidente e sua família.

Com Frederick Wassef, a preocupação não é menor. Vê-se que ele jamais morreria por síndrome de abstinência de vaidade. Só não repitam por aí que seus ternos são bem cortados. Ah, isso nunca! O problema é que o doutor, mesmo sendo um criminalista, está se enrolando cada vez mais.

Deixar a defesa de Flávio, como fez, não resolve nada. Confrontado com o fato de que Fabrício se escondia em sua casa, Wassef deveria, de cara, ter admitido que, bem…, sim, deu abrigo ao homem e ponto. E sustentaria, ainda que ninguém acreditasse, que Flávio nada tinha com isso.

Fez a segunda parte, ninguém acreditou, mas insistiu na conversa, contra todas as evidências factuais, de que não hospedava Fabrício, de que este estava lá de passagem, de que ignorava que sua casa servia de esconderijo para o sumido.

Ora, como ele mesmo lembrou, não havia mandado de prisão contra Fabrício. Isso, por si, não configurava crime nenhum. Ocorre que há agora a curiosidade para saber por que o homem se escondia em Atibaia e por que Wassef contou uma lorota impossível de sustentar. De resto, apareceu uma nova personagem, entrevistada nesta quarta pelo Jornal Nacional: Ana Flávia Rigamonti.

Começou a trabalhar na casa em que se escondia Fabrício, considerado um escritório de Wassef, em maio de 2019. Conviveu, desde sempre, com o ex-assessor de Flávio e com Márcia, que volta e meia passava por lá. Não se sabe qual era sua tarefa. Ela nega que fosse uma espécie de vigia de Fabrício a serviço de Wassef.

Informa o Jornal Nacional:
Em uma mensagem interceptada pelos investigadores, a mulher de Queiroz pede que a filha avise Ana que ela e o marido estavam a caminho de São Paulo. Neste mesmo dia, a filha de Márcia enviou à mãe a resposta de Ana: “Pode ficar tranquila que não falo nada, não”.

Já em outro diálogo registrado em novembro de 2019, o filho de Queiroz mandou para Márcia uma mensagem de áudio encaminhada por Ana, em que ela afirma que não teria comentado com o “Anjo” sobre uma viagem de Queiroz e de Márcia, pedindo que “se ele questionar alguma coisa, vocês falam que foi agora”.

Ao JN, Márcia nega que tratasse Wassef por “Anjo”. Indagada se, na convivência com Fabrício e Márcia, a palavra foi usada para designar o advogado, afirmou: “Bom, essa pergunta eu prefiro não responder.” Também disse não saber se seu chefe e o ex-assessor de Flávio se encontraram. Reitere-se: a casa estava registrada como um escritório, mas não funcionava como tal.

O que leva pânico a Bolsonaro e sua família? Se aparecer alguma coisa da pesada contra Fabrício, praticada no tempo em que Wassef lhe dava abrigo, a coisa pode esbarrar no doutor. O risco está em o homem vir a ser preso caso o ex-faz-tudo de Flávio tenha aprontado alguma em que ele possa figurar como cúmplice.

Essa espécie de torpor silencioso de Bolsonaro, assim, tem dois nomes: Márcia Oliveira Aguiar e Frederick Wassef. Nem mais de ameaçar o país com golpe de Estado o presidente se lembra. O medo comeu a sua língua, o que, em si, é bom. Esse medo, por ora, o faz ser prudente.

Uol