Bolsonaro manda Exército se associar a empresa americana

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Foto: Reprodução

Após intenso lobby do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o Exército está prestes a fechar uma parceria para a fabricação de pistolas da marca americana SIG Sauer no Brasil.

O filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é entusiasta de armas, e é visto no mercado como uma espécie de garoto-propaganda da SIG.

Sua insistência em promover a empresa gerou desconforto em setores do Exército, já incomodados pela revogação de portarias de controle de armas e munições por ordem do presidente.

No seu canal no YouTube e em sua conta no Facebook, Eduardo aparece testando pistolas da marca em um clube de tiro em março deste ano.

Em 16 de abril do ano passado, postou no Twitter a foto de uma reunião com representantes da empresa, prometendo ajudá-los: “Falta a garantia política de que o lobby não atochará tantas burocracias para emperrar a instalação” de uma fábrica no país.

 

Em janeiro, o deputado disse que havia sido procurado pela SIG e que acreditava no interesse de outras empresas no Brasil, como a Beretta —a legendária forja italiana dá nome à sua cachorra.

Há duas semanas, visitou o general Alexandre Porto, que assumiu a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército em substituição a Eugênio Pacelli, cujas portarias foram derrubadas.

A Folha não conseguiu falar com o deputado, que presidia a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara nesta segunda (8).

A negociação para a nacionalização do portfólio da empresa começou em 2018, mas a chegada da família Bolsonaro ao poder acelerou o processo.

Como o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril explicitou, Bolsonaro defende armar a população.

A sugestão não foi bem digerida entre fardados, dado que o monopólio da força é dos militares e da polícia. O Ministério Público Federal apura a derrubada das portarias de controle.

A ideia da abertura do mercado em si, hoje dominado pela brasileira CBC/Taurus, não é nova. Em 2017, no governo Michel Temer (MDB), a estatal suíça Ruag recebeu autorização para abrir uma fábrica.

A Assembleia Nacional do Estado europeu acabou barrando o negócio no ano seguinte, por temer danos de reputação ao país.

Outras empresas foram contatadas, inclusive a SIG.

Uma delas, a nacional DFA, recebeu neste ano autorização para fabricar em Anápolis (GO) pistolas da marca eslovena Arex e espingardas da turca Barathrum.

O acerto com a SIG, contudo, é diferente. Segundo o Centro de Comunicação Social do Exército, está sendo negociada uma parceria entre a sucursal americana da marca, de origem suíço-alemã, e a brasileira Imbel.

A Indústria de Materiais Bélicos do Brasil é uma empresa pública ligada ao Comando do Exército. Ela faz munições, fuzis e pistolas.

É dependente do governo. Custou R$ 152,2 milhões ao Tesouro para seguir operando em 2019.

O Exército informa que as duas empresas só precisam agora do aval dos respectivos governos para firmar um acordo de produção conjunta no Brasil. Ainda não há detalhes sobre metas e investimento.

A sucursal americana da SIG foi procurada pela Folha desde a semana passada, mas não respondeu ao contato.

Para a empresa, o negócio com a Imbel viria em boa hora. O governo alemão acaba de endurecer as leis de controle sobre armas de atiradores profissionais, e a empresa irá fechar sua fábrica no estado de Schleswig-Holstein.

Com 125 empregados, a unidade desde os anos 1990 não era a principal da marca, título que está com a fábrica de New Hampshire (EUA), que negocia com o Brasil. Lá, 1.200 trabalhadores fornecem pistolas e fuzis para as Forças Armadas e polícias americanas.

Ainda na Alemanha, seu ex-presidente teve de fazer um acordo judicial em 2019 para evitar ser preso por ter triangulado uma exportação ilegal de 38 mil pistolas para a Colômbia, nos anos 2000.

A SIG disputa mercados com pesos-pesados como a CBC/Taurus, fabricante brasileira presente em mais de cem países e uma das principais fornecedoras de munição da Otan (aliança militar ocidental).

A briga dos Bolsonaros com a CBC/Taurus é antiga. Desde que era deputado, o hoje presidente falava em “quebrar o monopólio” da empresa.

Na realidade, o domínio da empresa tem a ver com a lei, que dá ao Exército a primazia de vetar a importação de armas que tenham similares nacionais.

A Taurus sempre se defende da acusação apontando para o fato de que o que trava a entrada de estrangeiros aqui é a carga tributária: 73% do custo de uma pistola é em imposto.

No ano passado, Bolsonaro editou um decreto facilitando o acesso a armas —que acabou derrubado no Senado—, que paradoxalmente fez as ações da Taurus subirem.

Já Eduardo, além de seu trabalho em prol da SIG, sempre fez críticas abertas ao mercado nacional, ressaltando os problemas de qualidade que a Taurus teve com alguns de seus produtos.

A SIG também tem suas questões: o modelo P320, exatamente o que o Exército quer fabricar no Brasil, teve de passar por um recall devido a disparos involuntários nos EUA.

A P320, pistola feita de polímero, custa entre R$ 10,7 mil e R$ 19,7 mil no site da distribuidora brasileira da SIG.

Folha De S, Paulo