Deputada bolsonarista transmite ameaça do chefe ao STF

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Foto: Carlos Macedo/Câmara dos Deputados

A deputada Carla Zambelli, hoje uma das principais aliadas de Jair Bolsonaro no Congresso, afirmou que o presidente pode vir a recorrer ao artigo 142 da Constituição, seguindo a interpretação do jurista Ives Gandra Martins, que vê a possibilidade de uma intervenção militar caso um Poder invada competências do outro.

Segundo Zambelli, em entrevista à coluna, ao vivo, no Instagram, os que são contra esta interpretação, a exemplo dos 11 ministros do STF, da Câmara, do Senado e da OAB, o fazem por hoje estarem invadindo atribuições do Executivo.

Zambelli disse, entretanto, ver o presidente hoje disposto ao diálogo e avaliar que o Supremo Tribunal Federal derrubará na votação de amanhã o inquérito das fake news, em que ela foi convocada para depor.

Arrependeu-se de ter convidado Sergio Moro para ser seu padrinho de casamento?

Acho que sim. Se pudesse voltar atrás, ele não teria sido nosso padrinho. No caso do Moro, seria incapaz de gerar maldade ou falta de educação para com ele. Sempre fui uma das pessoas que mais apoiou o juiz e, como deputada, o ministro Moro. Nunca imaginava que ele pudesse usar uma conversa nossa para falar algo que o presidente tinha falado sobre ele. Achei ruim, falta de ética e de sensibilidade. Olho minhas fotos e não queria vê-lo ali. Agora olho isso, e até pedi para editar, porque assisto e não vejo verdade. É uma pena. Eu faria diferente, não teria convidado ele.

Quão próximos vocês eram?

A Rosângela (Moro, mulher do ex-ministro) e eu tínhamos um carinho mútuo, rolou uma afinidade. O ministro sempre respondeu prontamente o que eu perguntava. Ele e meu marido sempre tiveram uma proximidade maior, inclusive, o pedido de padrinho partiu do meu marido. Mas não chegamos a ter uma proximidade maior porque o tempo não permitiu. Não era amizade.

Não teme se decepcionar com Bolsonaro?

É diferente. O ministro Sergio Moro não era um ídolo, era mais um herói. Não via características negativas. No Bolsonaro, vejo. Já tive chateações e isso nunca arranhou o que tive por ele porque sempre o vi como ser humano. A única forma de me decepcionar com ele é saber que ele roubou, que participou de esquema de corrupção. Tenho carinho por ele.

Mas foi Moro e não Bolsonaro que chamou para padrinho.

Chamei. A Michelle (Bolsonaro) estava lá, perguntei se ela queria entrar com os padrinhos. Tinha chamado o presidente, ele falou: ‘Não conta comigo, minha agenda é fechada’. Se ele tivesse ido, provavelmente, seria só ele com a Michelle na parte de cima, deixaria os ministros nas cadeiras de padrinhos.

O presidente está fazendo algo que ele e seus apoiadores, a senhora incluída, falaram que ele nunca faria, um pacto com o centrão. Como avalia essa aproximação?

Não questionei, até porque não cabe a mim. Os cargos de primeiro escalão não foram loteados, continuam técnicos. Não gostaria de dar nenhum cargo de primeiro escalão e estatal para o Centrão. Fico feliz que pessoas do Centrão possam compor o governo? Não. Mas fico em paz quando sei que temos um CGU muito ativo e uma Polícia Federal livre para fazer o que quiser. E precisamos aprovar certas coisas no Congresso. Tentamos formar a base no amor, conversando, mas eventualmente os cargos precisam ser distribuídos. Se esses caras começarem a roubar, vai aparecer.

Um dos principais aliados do presidente na Câmara hoje é o deputado Arthur Lira (PP-AL), que deseja presidir a Casa, e foi acusado de corrupção passiva. Votaria nele?

Não, não voto no Arthur Lira. Para o Rodrigo Maia anunciei o voto, porque achei que nos ajudaria, mas a relação acabou ficando difícil. Não voto no Arthur Lira porque precisaria escutar muito bem as linhas que ele seguiria na presidência. Não tenho nada contra ele pessoalmente, todos têm direito à defesa, mas teria que ouvi-lo para saber se é um conservador.

Eduardo Bolsonaro falou que uma ruptura institucional é questão de “quando”. Haverá uma ruptura democrática?

Não acho.A democracia não está em risco. Mas, se algumas pessoas de alguns poderes continuarem agindo como agem, com certo abuso de autoridade, cada vez mais vamos ter um público preocupado com isso, e essas pessoas terão dificuldade de sair à rua.

Vê as Forças Armadas entrando na aventura de um intervenção, um golpe?

Não vejo. Não vejo os generais da ativa dispostos a entrar em intervenção e não vejo o presidente com vontade de fazer isso. De vez em quando ele dá um grito, que é o que todo mundo que passa por o que ele passa faria.

Mas vê chance de intervenção militar?

Hoje, não vejo. Conheço o (jurista) Ives Gandra Martins, foi meu professor, meu orientador. Em 2015, eu o procurei, falei: ‘vou virar intervencionista, o Nas Ruas (movimento então liderado por Zambello) vai pedir intervenção. Ele falou: ‘Você não vai fazer isso, vamos derrubar ela (Dilma Rousseff) de forma democrática’. Esse mesmo professor foi falar sobre as coisas que o STF tem feito para avançar sobre o Executivo e falou em artigo 142. Ninguém fala em derrubar o STF, mas eventualmente as Forças Armadas atuarem como Poder Moderador. Com invasão de poder, as Forças Armadas são garantidoras da Constituição e quando se tem o poder executivo sendo invadido, pode pedir 142.

O presidente Bolsonaro poderia usar este artigo com esta leitura?

Sim, mas não vejo o presidente disposto a fazer isso agora. Vejo-o disposto a baixar a temperatura, dialogar.

Mas a Constituição não diz isso. Os ministros do STF, a Câmara e o Senado, o PGR disseram que não há intervenção militar na Constituição.

Quem não concorda é quem está invadindo. Há um professor de mais de 80 anos falando sobre a teoria da separação de poderes.

Qual sua expectativa sobre a votação desta quarta-feira no plenário do STF sobre o inquérito das fake news?

Ou que vai ser derrubado ou dividido, que é um dos posicionamentos do Aras. Segundo ele, 98% não guardam relação com o que é discutido no inquérito e, às vezes, passa a impressão de que foram colocados deputados só para poder subir o inquérito. Esse inquérito é todo controverso. Acho que cai.

Um impeachment contra Bolsonaro prosperaria hoje na Câmara?

Não. O impeachment, mais que jurídico, é um processo político. Contra a Dilma, tínhamos um monte de coisa: Pasadena, as duas pedaladas e tinha a questão politica. A esquerda nunca vai conseguir colocar na Avenida Paulista, de cabo a rabo, de gente pedindo o impeachment de Bolsonaro.

O grupo que chegou ao poder foi perdendo muita gente: Alexandre Frota, Joice Hasselmann, Gustavo Bebianno, João Doria. Há amizade entre os bolsonaistas ou estão sempre em pé de guerra?

A direita briga mais do que deveria e briga em público muito mais do que deveria. Deveríamos brigar um pouco mais dentro da nossa casa. Em relação ao Allan Terça Livre, sempre o defendi, sempre que entendi que ele era injustiçado. A reciproca não é verdadeira. Jesus fala que o joio e o trigo precisam crescer crescer para separá-los. Agora cresceu e as pessoas estão começando a ver.

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