Empresas que apoiam Bolsonaro sofrem boicote do público

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Foto: Reprodução

O preço do posicionamento político nunca foi tão alto para os empresários brasileiros. Nas últimas semanas, as marcas usadas e os mesmos têm colocado um favor de Jair Bolsonaro (e, consequentemente, dos seus pronunciamentos pedindo uma minimização das medidas contra um covid-19 no país) que têm sido alvo de boicotes.

Foi o que aconteceu com redes de lojas Centauro, Havan e Riachuelo, com academias Bio Ritmo e Smart Fit e com cadeias de restaurantes Coco Bambu e Madero. Os fundadores ou controladores dessas empresas demonstraram, durante uma pandemia, apoio ao presidente brasileiro, com alguns chegando a se envolver em manifestações favoráveis ​​pelo governo Bolsonaro.

Uma das primeiras a notar o efeito negativo que pode vir do posicionamento foi a Smart Fit. Seu fundador, Edgard Corona, compartilhou pelo WhatsApp vídeos de ataques ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, defendendo a propagação desse tipo de conteúdo. Vale lembrar que, em diversas ocasiões, os discursos de Jair Bolsonaro tiveram Maia e o Congresso como alvos.

Em mensagem ao jornal inglês The Guardian, um dos primeiros a noticiar os boicotes no Brasil, a Smart Fit afirmou não apoiar partidos ou políticos. O jornal apontou a existência de um grupo no Facebook com mais de 300 mil membros, onde se discutia o boicote às academias de Edgard Corona. A rede vem perdendo clientes desde o começo da pandemia .

De acordo com Francisco Saraiva Júnior, especialista em branding da Fundação Getúlio Vargas, muitas marcas que não tinham o costume de manifestar-se sobre temas da atualidade passaram a fazer isso. “Essa situação é bem específica do momento em que vivemos, com a adesão às redes sociais”, diz o especial ista. “Graças a elas, a nossa relação com as empresas mudou. Elas estão mais humanas, mais próximas de nós. Elas propõem diálogo. O consumidor agora espera que a marca expresse seus valores e posicionamentos.”

Outra rede prejudicada pela expressão de ideologias foi a cadeia de restaurantes Madero. Seu dono, Junior Durski, gravou, em março, um vídeo em que declarava apoio às manifestações pró-Bolsonaro de 15 de março. “Estou 100% com o presidente Jair Bolsonaro, em quem eu tenho muito orgulho de ter votado, de ter trabalhado na campanha, de ter ido para a rua todas as vezes em que tivemos que ir e que vamos de novo para as ruas”, disse. Além disso, Durski afirmou que o impacto econômico da crise é pior do que as mortes decorrentes do novo coronavírus.

Resultado: logo após o pronunciamento do empresário, um dos temas mais comentados do Twitter era a hashtag #MaderoNuncaMais. Desde então, Junior Durski chegou a anunciar que um de seus restaurantes em Curitiba, que costumava receber 400 clientes por dia, está servindo cerca de 30 pessoas diariamente.

A marca Havan também tem sofrido as consequências do explícito apoio de seu dono, Luciano Hang, ao presidente. A rede tentou incluir em seu portfólio alguns itens de cesta básica, como arroz, feijão e óleo de soja, em uma tentativa de ser incluída na categoria de supermercados e evitar o fechamento obrigatório de suas lojas. A medida desagradou a muitos nas redes sociais, onde se tem pedido o boicote à marca.

O empresário Carlos Wizard, sócio de marcas como Mundo Verde, Pizza Hut e Topper, é outro que pode sentir no bolso as consequências de se envolver com o governo. Ao longo das últimas semanas, ele vinha participando de reuniões do Ministério da Saúde e chegou a ter seu nome anunciado como integrante da pasta. Wizard, porém, defendeu iniciativas questionáveis como a recontagem de mortes pela pandemia e, ato contínuo, recebeu uma enxurrada de críticas na internet. A maioria delas pregava boicotes a 20 marcas empresariais ligadas à sua família.

“O posicionamento das marcas é muito complexo, principalmente sobre assuntos delicados como política. É algo que eu realmente não recomendo ”, afirma Saraiva. “É melhor marca de manifesto ou que tipo de ajuda para a sociedade.” Para empresas, portanto, vale uma recomendação: antes de se posicionar, deve medir os efeitos econômicos de seus discursos. “Com as redes sociais, vemos um verdadeiro ativismo digital, algo que é creditado na história. O relacionamento com as marcas mudou, assim como o poder de propagação das mensagens. ”

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