Financiador de atos pró golpe acha tudo “normal’
Foto: Reprodução CNN
Apoiador de primeira hora de Jair Bolsonaro, o empresário Otavio Fakhoury, investigado e alvo de operações de busca tanto no inquérito das fake news quanto no que apura a promoção de atos antidemocráticos, diz que é alvo de “crime de opinião” e afirma que as fake news são “um truque semântico que o cara joga contra uma matéria que ele não gosta”. Ele admite ter dado entre R$ 30 mil e R$ 40 mil desde 2016 ao site conservador Crítica Nacional, também citado no inquérito que investiga notícias falsas. E diz que apoiou atos em que bandeiras antidemocráticas foram levantadas, mas que não tem como controlar o que as pessoas pedem nas ruas.
—Como você vai controlar? A pessoa é livre — disse ao GLOBO. Ele acredita que o presidente está se afastando do conservadorismo, ainda que a contragosto.
Quando o senhor começou a ajudar o site conservador Crítica Nacional, página conservadora e de direita, citada no inquérito que investiga fake news? E como é essa ajuda, é sócio?
Não tenho relação de sociedade. Eu conheci Paulo Enéas (responsável pelo site) em 2015, ele tinha um blog, gostava de ler os textos dele, me falou que iria montar um portal. Eu falei para montar o portal e me apresentar. Gostei do portal que ele montou. No começo o ajudei, e depois ele começou a navegar por conta própria, hoje tem outras fontes de financiamento.
Não é complicado pagar para financiar um ato em que as pessoas sempre levam essas bandeiras de fechar o STF, o Congresso?
Como você vai controlar? A pessoa é livre. Os organizadores com quem a gente colaborou com recurso, inclusive com nota fiscal porque são movimentos que tem CNPJ, não usam essa faixa, não vão lá pedir isso. Agora, o cara do lado passa com uma faixa dessa, gritando, você vai fazer o quê? Atirar? Jogar uma bomba nele? A gente não faz isso.
O próprio ato neste momento não contribui para o país ficar mais conturbado?
Não tem uma ocorrência em nenhuma das manifestações que a gente ajudou. Como vai medir objetivamente se a manifestação é democrática ou não, baseado nas ocorrências. Uma manifestação, se tem ocorrência de violência, já não é democrática. Não pode violar patrimônio público, não pode agredir, como vemos nas manifestações do outro lado.
Ultimamente, como está a colaboração?
Eu ajudo menos. No começo, foi expressiva, depois se reduziu a uma colaboração igual a de outras pessoas. Se eu acho que um veículo merece ajuda, eu vou lá e ajudo. Na minha maneira de ver, não tem crime nenhum em você escrever um editorial crítico sobre ninguém.
Quanto o senhor já investiu no Crítica Nacional?
Não é investimento. É ajuda esporádica. Ajudei com computador. Não dá para somar porque é pouco. Não chega a ser uma coisa constante. Às vezes, precisa de alguma coisa a mais e eu ajudo. Eu mais ajudei recomendando pessoas para trabalhar com ele do que sendo financista geral.
Mas não tem uma ideia de valor?
Entre R$ 30 mil e R$ 40 mil por ano, fazendo uma média, desde 2016.
Antes da saída do Abraham Weintraub do Ministério da Educação, o senhor falou que iria repensar o seu apoio ao governo caso ele fosse demitido.
Além da pressão que tinha para que ele saísse, eu soube depois que também estava sofrendo ameaças contra a sua família. Ele mesmo estava disposto a sair.
Ameaçado como?
A mulher e a filha dele sofreram ameaças contra a integridade física delas.
Ele foi para os Estados Unidos por causa disso?
Eu acho que a necessidade de ficar longe disso possa ter acelerado a coisa. Não estou com a impressão que ele saiu fugido porque iria ser preso. Não tem motivo para prendê-lo. Ele falou que queria prender o ministro do Supremo. Mas desde quando isso é crime? No máximo, podem achar que é injúria. Ameaçar um cara de prisão porque falou uma coisa daquela, ainda mais numa conversa privada, aquilo, sim, é autoritarismo. O que estamos vivendo hoje é pior do que no AI-5.
O perfil do novo ministro da Educação indica que o olavismo está mais distante do governo?
Está distante, sim. Acho que das pessoas de viés conservador no governo sobrou o Filipe Martins, o Ernesto Araújo e um ou outro.
O senhor acha que o governo está se afastando do conservadorismo, está cedendo ao que os apoiadores chamam de establishment político?
Na aparência parece que sim. Dentro do Bolsonaro, ele não me parece feliz com essa decisão.