Gari carioca que denunciou más condições de trabalho é punido

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Foto: Reprodução

Após a divulgação de um vídeo com duras críticas às condições de trabalho de garis em meio à pandemia do novo coronavírus, a Comlurb aplicou uma punição ao autor da gravação, Bruno Coelho de Lima, de 35 anos, vice-presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da gerência da empresa no Engenho de Dentro. Ele recebeu cinco dias de suspensão após o vídeo, feito durante uma reunião com garis em que criticou também o processo de flexibilização da prefeitura, ser divulgado nas redes sociais.

O vídeo foi feito no dia 15 de junho, mesma data do anúncio da flexibilização pela prefeitura.

— Há falta de luva, álcool gel e sabão no banheiro. Dizem que tem higienização, mas só lavam o chão. O prefeito diz que há um novo normal, mas as pessoas estão morrendo. Estamos indo para uma carnificina — disse o gari, há 15 anos na Comlurb.

Ele também acusou a empresa de não ter um protocolo de ação durante a pandemia. E criticou a máscara de pano fornecida pela Comlurb aos garis e a necessidade de levar as roupas de trabalho para serem higienizadas em casa. Ele ainda denuncia ter colegas que continuam trabalhando apesar de serem hipertensos:

— Estamos vendo pessoas da nossa família ou colegas perdendo familiares. O trabalhador hipertenso apresenta o laudo médico e a Comlurb não atende. Quando fazemos greve há um plano de contingência, mas por que não há isso agora? — indagou.

No texto relativo à punição, que teve início no dia 24, a Comlurb justifica que “as acusações ao empregador, sustentando a inexistência de protocolos de enfrentamento ao Covid e de regular fornecimento de insumos de proteção à saúde, prejudicando o ambiente de trabalho em momentos de pandemia, divulgando falsas informações e ofensas ao empregador em redes sociais (…) quando chegou a falar em ‘carnificina’ promovida pela direção da empresa e considerando que a Comlurb já dispensou do trabalho milhares de empregados em situação de risco, fornece os equipamentos necessários à prevenção da doença e elaborou protocolos e divulga as informações no aplicativo desenvolvido para os empregados e em todos os seus canais de informação, restam caracterizado ser voluntária a divulgação de informações equivocadas com objetivos de ofender os superiores hierárquicos, prejudicar a imagem e honra institucional da companhia, contrariando o Código de Ética da empresa e a consolidação das leis trabalhistas”.

A Câmara de Vereadores do Rio enviou ofício no dia 25 de junho ao presidente da Comlurb, Paulo Mangueira, manifestando preocupação com a notícia sobre a punição do gari (que é conhecido como Bruno da Rosa) após a divulgação de um vídeo em que mostra a reunião em seu local de trabalho com as reivindicações de equipamentos de proteção individual e protocolos específicos para afastamentos de garis com sintomas de Covid-19 ou que tenham coabitação com pessoas positivadas para o coronavírus”. E considera “a suspensão de cinco dias injusta, uma vez que o conteúdo da fala no vídeo retrata um apelo legítimo de um membro da CIPA. Diante da gravidade dos fatos solicitamos que a direção da Comlurb retire a punição aplicada”, diz o ofício assinado por dez vereadores.

Bruno voltou ao trabalho na segunda-feira e em seu perfil no Facebook fez um comentário dizendo que não se intimida com a punição aplicada.

“Quem faz é Comlurb são os trabalhadores. Somos nós que falamos dia a dia e é a gente que sofre na pele. se enganou quem achava que iria me intimidar me dando uma punição por que eu denunciei a falta de condições de trabalho. Tenho recebido enorme apoio dentro de fora da categoria. Eles dizem que eu menti quando falei da falta de EPI e sobre outras reivindicações. Vamos provar quem está mentindo. Ninguém vai calar o gari”, escreveu.

Bruno disse que seus colegas na gerência do Engenho Novo fizeram um abaixo-assinado contra a punição e que vai procurar na Justiça do Trabalho. Procurada, a Comlurb ainda não se manifestou.

O Globo