Miriam Leitão acusa Bolsonaro de usar dinheiro público em política

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Foto: EDU ANDRADE/FATOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O fim de semana aumentou a intensidade da crise. Não parecia possível, mas os elementos das manifestações a favor do governo intensificaram a tensão e a crise política e institucional. O presidente Jair Bolsonaro novamente usou os símbolos militares em manifestação. Ele usou o helicóptero da Força Aérea, andou em um cavalo da PM. O presidente está fazendo campanha antecipada para 2022 usando dinheiro público. Ele nunca deixou o palanque. Todos os movimentos dele são filmados por servidores públicos para que sejam transmitidos nas redes sociais.

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, estava com o presidente no helicóptero. As Forças Armadas estão destruindo a imagem que construíram nos 30 anos desde a redemocratização. Nesse período, elas adotaram o profissionalismo, se dedicaram a cumprir suas funções dentro da sociedade e assim apagar a deterioração da imagem durante durante a ditadura que impuseram ao país. Os militares do atual governo passam mensagens dúbios a todo momento. É impossível não ver.

Os oficiais com os quais converso tentam minimizar as falas e atos do presidente. “Ele é assim mesmo”, dizem. “Isso é só retórica”, como se fosse para não se levar a sério o presidente. Em entrevista ao “Valor”, o vice-presidente Hamilton Mourão tratou as falas do presidente e do seu colega general, Augusto Heleno do Gabinete de Segurança Institucional, como “retórica inflamada”. Bolsonaro “se irrita”, disse Mourão, o que seria “uma característica pessoal do presidente”. A fala e as ações de Bolsonaro são muito sérias.

Um dos problemas é o uso dos recursos públicos por uma pessoa em campanha antecipada para 2022. Outro é que as Forças Armadas estão em simbiose com o governo Bolsonaro, e está sendo impossível separá-las dos recados de ruptura institucional num país que viveu uma ditadura militar por 21 anos.

Nas manifestações de rua, pode-se tentar separar, dissuadir para que não haja conflito. Mas nas Forças Armadas essa separação não tem sido feita. As Polícias Militares também foram atraídas. Elas foram muito beneficiadas na reforma da Previdência de militares, que na realidade era um plano de carreira e salários para a categoria. O presidente as atraiu concedendo benesses que serão pagas com recursos públicos. Os policiais terão vantagens que não tinham antes. Foi parte da construção desse apoio das polícias ao governo. É para se prestar atenção a todos esses detalhes.

O grupo que carregou tochas com máscaras brancas era pequeno mas cometeu crime de fazer apologia da Ku Klux Klan, o grupo de criminosos americanos que tinha como objetivo matar negros. Além disso com frequencia usam símbolos nazistas.

O dia de ontem foi marcado pela ida de outras vozes para as ruas. As manifestações implicam em aglomerações o que não é aconselhável, mas o presidente tem provocado o conflito. Ele foi para a rua pelo sétimo domingo consecutivo aderindo a atos anti-democráticos. Desta vez houve também nas ruas atos em defesa da democracia. O ideal seria que ninguém se aglomerasse nesse momento. A sociedade deveria se concentrar no combate à pandemia.

Se dois grupos se encontram nas ruas num país polarizado sempre há o risco de confronto, mas por isso é fundamental um comportamento neutro das polícias militares. E o risco, neste momento, é que elas não sejam neutras.

O Globo