Queiroz terá que explicar vazamento para Flávio
Foto: Sebastião Moreira / EFE
A Polícia Federal decidiu tomar o depoimento do ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, sobre as suspeitas de vazamento de uma investigação sigilosa que mirou parlamentares da Assembleia Legislativa do Rio e detectou movimentação financeira atípica nas contas dele. Queiroz foi preso preventivamente na quinta-feira por uma outra investigação, do Ministério Público do Estado do Rio, sobre um esquema de rachadinha (desvio de salários) que funcionaria no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio.
O caso do vazamento está em investigação pela PF do Rio após uma entrevista do empresário Paulo Marinho, ex-aliado de Bolsonaro. Marinho afirmou que a equipe do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) recebeu informações vazadas da Operação Furna da Onça indicando que Queiroz estava na mira das investigações e que isso teria motivado a demissão do assessor do seu gabinete.
A investigação da Furna da Onça recebeu relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre movimentação financeira atípica de funcionários da Assembleia Legislativa do Rio. Em um desses relatórios, foi detectado que Queiroz realizou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em um intervalo de um ano, apontando a possível prática de “rachadinha” no gabinete de Flávio –desvio de salários dos funcionários.
Segundo fontes da PF, o delegado Jaime Cândido, responsável por conduzir o inquérito sobre o vazamento, já determinou o agendamento de uma data para o depoimento de Queiroz. A previsão é que o ex-assessor seja ouvido na condição de testemunha, por isso ele não teria direito a permanecer em silêncio. A avaliação dos investigadores é que Queiroz pode ter informações sobre o possível vazamento que motivou a sua demissão do gabinete de Flávio Bolsonaro, por isso o seu depoimento é considerado essencial para a elucidação dos fatos.
Desde que seu nome ficou sob suspeita, Queiroz passou a se esquivar de apresentar explicações ao Ministério Público do Estado do Rio, que cuida da investigação da rachadinha. Sua defesa apresentou informações por escrito, mas Queiroz nunca prestou depoimento ao MP do Rio. Com a prisão, ele deve ser ouvido nos próximos dias pelos promotores, mas neste caso ele pode optar por ficar em silêncio, por ser ouvido na condição de investigado.
Cândido já ouviu outras testemunhas que possam ter conhecimento dos fatos. O primeiro depoimento foi do próprio empresário Paulo Marinho, que reiterou as acusações feitas na entrevista e apresentou novos detalhes. Marinho também entregou seu celular como prova de reuniões que manteve com Flávio Bolsonaro na época da campanha eleitoral. Outros depoimentos, de investigadores da Furna da Onça e de outros assessores de Flávio, já foram tomados.
A tomada do depoimento de Queiroz justamente pela PF do Rio pode ampliar o desgaste do presidente e as pressões na Polícia Federal, que geraram uma crise que culminou no pedido de demissão do então ministro da Justiça Sergio Moro. Na ocasião, Moro denunciou que Bolsonaro queria interferir na PF do Rio e a Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu um inquérito para investigar os fatos.
Após a saída de Moro, Bolsonaro nomeou outro nome para comandar a PF, o delegado Rolando Alexandre de Souza. Um dos primeiros atos de Rolando foi trocar o comando da PF do Rio. Para o cargo, foi indicado o delegado Tácio Muzzi. Seu nome foi bem recebido internamente pela Polícia Federal, por ser um delegado experiente e com trajetória respeitada, mas a troca imediata na Superintendência do Rio causou mal-estar na corporação.