Recessão começou em janeiro, antes da pandemia
Foto: AGÊNCIA BRASIL
O Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre de 2020, encerrando um ciclo de fraco crescimento de três anos (2017-2019).
A informação foi divulgada nesta segunda-feira (29) pelo Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), órgão ligado ao Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e formado por oito economistas de diversas instituições.
A expectativa é que a recessão atual seja curta, mas com intensidade recorde, considerando dados dos últimos 40 anos, segundo o professor do Insper Marco Bonomo, que faz parte do comitê.
A decisão do comitê foi unânime e considerou uma série de dados econômicos já divulgados neste ano, entre eles, o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre de 2020, que mostrou queda de 1,5% na comparação com os três meses anteriores, segundo informações divulgadas pelo IBGE em maio.
Dados mais recentes mostram que a queda no segundo trimestre pode chegar a 10%, período em que as medidas de isolamento sociais atingiram o ápice do país.
Os EUA também possuem um comitê semelhante ao Codace. No início de junho, o comitê do Escritório Nacional de Pesquisas Econômicas (NBER, na sigla em inglês) decretou que o país entrou em sua primeira recessão desde 2009, após 128 meses seguidos de crescimento ininterrupto da economia, um recorde desde o início da medição iniciada em 1854. O PIB dos EUA recuou 1,2% no primeiro trimestre. Lá, a recessão começou em fevereiro.
Não há uma definição oficial sobre o que caracteriza uma recessão. Embora alguns economistas utilizem a métrica de que esse é o período marcado por dois trimestres seguidos de queda na atividade, o Codace considera uma análise mais ampla de dados. Para o comitê, o declínio na atividade econômica de forma disseminada entre diferentes setores econômicos é denominado recessão.
Os dados analisados mostram que a economia já não estava bem no início do ano e que a situação se agravou com a onda de contaminação pelo novo coronavírus que levou ao fechamento da maior parte das atividades a partir de março.
Reportagem da Folha da última sexta (26), já havia mostrado que o distanciamento social provocará neste segundo trimestre o maior tombo na economia brasileira em pelo menos 40 anos.
Outro levantamento do Ibre/FGV também mostra que apesar de a confiança de consumidores e empresários ter apresentado dois meses seguidos de recuperação após o fundo do poço verificado em abril, o indicador brasileiro encontra-se em uma situação desfavorável em relação à maioria dos países economicamente relevantes.
O Codace também divulgou nesta segunda-feira que realizou a datação mensal da recessão de 2014-2016 e identificou um pico da atividade em março de 2014 e o ponto mais baixo da mesma em dezembro de 2016. Segundo a instituição, isso significa que a recessão teria durado 33 meses.
Essa é, até o momento, a maior recessão da série de análises que consideram dados desde 1980. A segunda maior foi de 1989 a 1992, com 30 meses.
Em termos de intensidade, o pior resultado é a queda acumulada de mais de 8% do PIB de 2014 a 2016, algo que deve ser superado neste ano.
O comitê foi criado em 2004 pela Fundação Getulio Vargas com a finalidade de determinar uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiros, estabelecida pela alternância entre datas de picos e vales no nível da atividade econômica.
Embora tenha sido criado e receba apoio operacional da FGV, por meio do Ibre, as decisões do comitê são independentes.
Em sua reunião da última sexta-feira (26), o Codace era formado por Affonso Celso Pastore (coordenador, diretor da AC Pastore & Associados), Edmar Bacha (diretor do Iepe-Casa das Garças), João Victor Issler (professor da FGV/EPGE), Marcelle Chauvet (professora da Universidade da Califórnia), Marco Bonomo (professor do Insper), Paulo Picchetti (professor da FGV/EESP e pesquisador do FGV/Ibre), Fernando Veloso (professor da FGV/EPGE e pesquisador do FGV/Ibre) e Vagner Ardeo (vice diretor do FGV/Ibre).