Se Weintraub continuar Weintraub, não dura no novo emprego

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Foto: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Investigado por racismo contra chineses e por chamar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de “vagabundos”, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub terá de se submeter a padrões de conduta extremamente rígidos em relação a discriminação e assédio caso sua ida para o Banco Mundial seja confirmada. O código de conduta do banco, ao qual O GLOBO teve acesso, veda qualquer tipo de discriminação por nacionalidade, religião, entre outros motivos.

A ida de Weintraub ao Banco Mundial foi foi anunciada por ele em um vídeo postado em redes sociais no qual estava ao lado do presidente Jair Bolsonaro na quinta-feira. Ele foi indicado para o cargo de diretor-executivo da instituição na vaga que pertence ao grupo de nove países liderado pelo Brasil após sua permanência no Ministério da Educação (MEC) se tornar insustentável.

Weintraub é investigado por racismo em inquérito que tramita no STF por ter feito postagens indicando que a China iria se beneficiar com a pandemia do novo coronavírus e por ironizar a forma de falar dos chineses. Ele também é alvo no inquérito das fake news que tramita no Supremo. Durante uma reunião ministerial em abril, ele chamou ministros da Corte de vagabundos e disse que, por ele, mandaria todos para a cadeia.

O código de conduta do Banco Mundial, no entanto, condena atos de desrespeito e discriminação praticados por membros do conselho da instituição. “Oficiais do conselho devem tratar seus colegas e funcionários com cortesia, respeito, promovendo um ambiente de trabalho positivo sem assédio, incluindo assédio sexual, ou discriminação”, diz um trecho do documento.

Nesse código, o banco descreve o que entende como discriminação: “Discriminação deve se referir a qualquer diferenciação injustificável entre indivíduos ou grupos entre os membros do conselho ou do staff das organizações (que compõem o Banco Mundial) com base em características pessoais como idade, raça, cor, gênero, orientação sexual, idioma, habilidade física, opinião política, nacionalidade ou origem social, religião ou credo”.

Ao longo de sua trajetória como ministro, além de se referir de forma irônica aos chineses, Weintraub também fez referências controversas envolvendo a comunidade muçulmana. Em uma entrevista, ele disse que as universidades públicas brasileiras eram repletas de plantações de maconha e comparou-as a “madrassas de doutrinação”, em uma referência a escolas religiosas muçulmanas.

Um funcionário do Banco Mundial que falou sob condição de anonimato disse que a instituição leva a sério sua política de combate ao assédio e à discriminação. Há órgãos, de acordo com ele, dentro da instituição que investigam esse tipo de ocorrência quando elas são denunciadas.

Weintraub foi indicado pelo governo brasileiro para o cargo de diretor-executivo do banco. A vaga pertence a um grupo de nove países em desenvolvimento que inclui nações como Filipinas, Colômbia, Haiti e Equador.

Para que Weintraub ocupe o cargo, ele precisa ter sua indicação aceita por esses países. Ainda assim, seu mandato como diretor-executivo teria uma duração de apenas seis meses. Para continuar no cargo, ele precisará ser submetido a uma nova votação.

Como diretor-executivo do Banco Mundial, Weintraub deverá triplicar seus rendimentos em comparação com os salários de ministro de Estado no Brasil. Como ministro, ele ganhava R$ 30,9 mil. Como diretor, ele deverá ganhar R$ 115 mil, caso a indicação se concretize.

O Globo