Weintraub dissemina fake news até em depoimento na PF
Foto: Jorge William/Agência O Globo
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou em depoimento à Polícia Federal que “não é mera ilação” dizer que o governo chinês tem “participação” na pandemia do novo coronavírus.
Weintraub esteve na sede da PF, em Brasília, nesta quinta-feira (4) e entregou o depoimento por escrito. O ministro permaneceu no local por cerca de 30 minutos e disse ter sido recebido pelo diretor-geral da instituição, Rolando de Souza (veja os detalhes no vídeo acima).
O ministro da Educação negou ter cometido ato racista em postagem numa rede social, em que insinuou que a pandemia seria um plano infalível chinês para dominar o mundo.
Trechos do depoimento de Weintraub entregue à PF mostram que a “participação da China na pandemia do coronavírus não é mera ilação”. Ele acusou o país de “esconder o início da doença da OMS” e afirmou que “há fortes evidências de que o vírus foi criado em laboratório”.
Ao deixar a sede da PF, Weintraub foi recebido por apoiadores. Ele usou um megafone para falar: “liberdade é a coisa mais importante numa democracia e a primeira cosia que vão tentar calar é a liberdade de expressão”.
O ministro prestou depoimento no inquérito que apura suposto crime de racismo. Em abril, Weintraub fez em uma rede social insinuações de que a China poderia se beneficiar, propositalmente, da crise mundial causada pela pandemia do coronavírus.
O ministro também ridicularizou o fato de alguns chineses, quando falam português, trocarem a letra “R” pela letra “L”, assim como o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica. Dias depois, Weintraub afirmou que poderia pedir perdão pela publicação caso a China se comprometesse a fornecer respiradores ao Brasil.
“A participação do PCC [Partido Comunista da China] na pandemia não é mera ilação desse subscritor [Weintraub]. Trata-se de tema discutido abertamente por diversos líderes mundiais (vide comentário do presidente Donald Trump). Hoje há fortíssimas evidências que o vírus foi criado em laboratório, que o PCC escondeu o início da epidemia e informou a Organização Mundial de Saúde que não havia contágio entre humanos, e depois, de tudo, vendeu produtos necessários para o tratamento para todo o mundo. É razoável que o tema possa ser objeto de discussão livre”, afirmou Weintraub no depoimento por escrito.
À Polícia Federal, o ministro da Educação se disse ofendido com a abertura do inquérito e acrescentou que usa a conta na rede social para “manifestar ideias e se expressar livremente”.
“Como cidadão, uso minha conta na rede social Twitter para manifestar minhas ideias e me expressar livremente. Algumas manifestações expressam sentimentos, outras buscam informar, e outras levantam questões para debate”, declarou.
Na sequência do depoimento, Weintraub também afirmou que, ao trocar as letras “R” por “L” na mensagem, não quis ser “enfadonho”. Disse ainda que a mensagem continha “elementos de humor”.
“Em meio aos nefastos efeitos da crise, o conteúdo da postagem foi pensado para que eu pudesse abordar um tema da maior seriedade, sem ser enfadonho, na dinâmica própria das redes sociais. Ou seja, busquei levantar a seguinte questão para debates públicos: qual o papel na presente pandemia do Partido Comunista Chinês (doravante denominado PCC ou governo da República Popular da China, o que dá no mesmo)?”, afirmou o ministro.
Abraham Weintraub alegou ainda que a postagem era uma “reedição” e que, na opinião dele, não houve racismo nas declarações.
Para o ministro, é preciso levar em conta a percepção do “homem médio” ao analisar o conteúdo da postagem na internet.
“Não acho coerente com os princípios da boa-fé que possam imputar a mim crime de racismo. Deve ser levada em conta a percepção do ‘homem médio’, não de militantes de uma causa, enviesados por definição. Nessa linha, o post recebeu centenas de milhares de interações positivas e negativas, e, ao que me recorde, não foi vista por mim uma única que versasse sobre o tema racismo”, escreveu.
O ministro afirmou ainda que “não se pode imputar um crime nessas circunstâncias, sob pena de se revogar um princípio e direito maior constitucional, que é a liberdade de expressão”.
Ainda no depoimento à Polícia Federal, Weintraub fez críticas ao regime chinês ao afirmar que há uma “ditadura comunista de partido único” no país.
Sem citar fonte, Abraham Weintraub afirmou que a China é “campeã de violações aos direitos humanos”.
“Legalmente, racismo é: praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, étnica, religião ou procedência nacional. Nenhum desses elementos está a presente postagem”, escreveu o ministro.
” Há apenas referência a um governo, sem a qual a mensagem seria impossível, e uso de humor, que não contém elementos para tipificação penal”, acrescentou.