Ação contra Serra arrisca sobrevivência do PSDB

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Foto: Reprodução

O PSDB deve se apoiar ainda mais no governador João Dória, a partir de hoje, diante da deterioração da imagem de mais uma de suas principais lideranças. É o que avaliam integrantes do próprio partido ouvidos pela coluna após a denúncia da Operação Lava Jato contra o ex-ministro da Saúde, ex-governador e ex-presidenciável José Serra.

Acusado de lavagem de dinheiro, o senador por São Paulo verá as lideranças do partido se posicionando publicamente de forma semelhante ao momento em que Aécio Neves, estrela da legenda nas eleições presidenciais de 2014, também foi denunciado pela Lava Jato. Os caciques tucanos não deverão julgá-lo antes da própria Justiça.

O estrago na imagem do PSDB, contudo, preocupa tanto agora quanto naquela época. E, no susto, com o noticiário da denúncia desta sexta-feira, 3, a reação foi a de prever um novo sangramento com dimensões desconhecidas, mas forte o bastante para a atrapalhar a busca pelo protagonismo na política nacional.

Na avaliação do cientista político Lúcio Rennó, a denúncia contra Serra é “mais um baque em um partido já convalescente”. “Mas é um baque justamente na velha guarda do partido. Ou seja, é uma oportunidade para as novas lideranças do PSDB assumirem a proeminência”, afirma o especialista, que é doutor pela Universidade de Pittsburgh, nos EUA.

O PSDB de hoje contrasta com o de ontem, que conseguiu estabilizar a moeda e ganhou dois mandatos presidenciais, entre 1994 e 2002. Foi nesta época que conquistou o prestígio para governar São Paulo, o principal estado do país, o que faz há mais de 20 anos.

A legenda nasceu com um futuro brilhante porque juntava Franco Montoro, Mario Covas, Fernando Henrique Cardozo e o próprio Serra. Era um braço do PMDB que tentava fazer voo solo. Se descolava para virar um partido que não queria ser fisiológico. Com o Aécio mergulhado e fora do jogo, e Serra na mira da Lava Jato, dois ex-candidatos à presidência atingidos, o PSDB sobreviverá como? É a pergunta que se faz entre os seus correligionários.

A resposta imediata de alguns tucanos mais experientes é óbvia: apoiar-se em João Dória, quadro novo que levou o partido mais à direita, distante de sua raiz, a do Partido da Social Democracia Brasileira. Mas a nova lógica tucana vê o futuro não no BolsoDória da campanha de 2018, mas no governador que enfrentou a pandemia, antagonizando com o presidente radical de extrema direita.

Para o PSDB de 2020, há espaço para uma social democracia de roupa nova, não tão ao mar e nem tão à terra. Ou nem tão FHC, mas também nem tão BolsoDória. A depender do cenário político, se houver um esgarçamento do modelo polarizado da política brasileira, o governador de São Paulo poderia vestir essa camisa para ter uma candidatura viável.

“Repare, várias lideranças do partido estão escanteadas, apenas sobrevivendo. É o momento de novas lideranças assumirem de vez, principalmente através de seus governadores. Eduardo Leite é um político de imenso potencial e com muito mais perfil social democrata do que o Dória”, lembra Lúcio Rennó.

Segundo o cientista político, a solução certamente não passa pelo caminho da oposição a favor do Brasil. É ambíguo e reforçaria, na sua opinião, a imagem de indefinição do partido. “As declarações do partido defendendo Aécio e se opondo ao impeachment do presidente, são tímidas, pouco audaciosas e jogam o partido para um papel secundário na política nacional”, diz.

Enquanto isso, internamente, com a denúncia de mais um líder da velha guarda, abre-se espaço para um novo caminho para o PSDB. Resta saber se Eduardo Leite conseguirá ser capaz de assumir o protagonismo, hoje cada vez mais no colo de João Dória. E, diante desse quadro, será ainda um partido social democrata? Só o governador de São Paulo poderá responder.

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