Bolsonaro é do grupo de risco e não sabe

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Foto: Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro, que teve resultado positivo de infecção do novo coronavírus, está no grupo de risco da Covid-19. Bolsonaro, de 65 anos, está na faixa etária que concentra a maior parte de casos graves e mortes causadas pela doença.

Pacientes com idade mais avançada geralmente têm doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, que podem agravar o quadro de Covid-19.

Cristhieni Rodrigues, infectologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo, diz que não há registros públicos de que o presidente tenha problemas cardíacos ou diabetes, mas exercer esse cargo em um momento delicado como o atual pode acarretar em mais estresse, que funciona como um fator de risco também.

“O aumento do estresse leva a uma alimentação inadequada, diminuição de atividade física e piora na qualidade do sono. Tudo isso mexe com a imunidade de qualquer pessoa”, afirma a médica.

Durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro recebeu uma facada na barriga quando participava de um evento em Juiz de Fora (MG). Desde então, ele passou por cinco cirurgias. Em um dos últimos procedimentos, feito em setembro de 2019, os médicos corrigiram uma hérnia que surgiu na região devido às operações anteriores.

Na avaliação da infectologista, o ferimento de 2018 não deve influenciar a evolução da Covid-19 em Bolsonaro. “Já faz algum tempo que aconteceu, e ele teve um bom acompanhamento médico nesse período”, diz.

Segundo Bolsonaro, ele sentiu uma indisposição no domingo, e na segunda apresentou cansaço, febre e dor muscular. Uma tomografia realizada no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, não detectou alterações nos pulmões, disse o presidente. O exame que detectou o coronavírus foi feito na segunda-feira (6).

Rodrigues alerta ainda que a falta do uso de máscara e o não cumprimento de outras medidas preventivas contra o coronavírus, como o distanciamento social, fazem com que a carga viral recebida na hora da infecção seja maior, o que poderia levar a uma versão mais grave da doença.

“A máscara diminui a emissão de partículas de saliva que contém o vírus durante a fala, mas não oferece uma proteção completa. O ideal é também ficar afastado de outras pessoas”, afirma a infectologista.

Durante o anúncio do diagnóstico nesta terça-feira (7), Bolsonaro falou perto de jornalistas e, no fim da entrevista, se afastou dos repórteres e tirou a máscara do rosto.

Desde o início da pandemia, o presidente tem minimizado os efeitos da Covid-19 e desprezado orientações médicas de prevenção. Durante manifestações feitas em Brasília durante a pandemia, ele e apoiadores ignoraram o uso da máscara. Nos últimos meses, Bolsonaro também provocou aglomerações em espaços públicos.

Em um pronunciamento feito na TV no mês de março, o presidente chamou a Covid-19 de gripezinha. “No meu caso particular, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido por uma gripezinha ou um resfriadinho”, disse o presidente na transmissão.

“Pacientes com mais de 60 anos com doenças crônicas pulmonares e cardíacas têm mais chances de desenvolver a forma grave da doença. Mas também vemos jovens e adultos sem doenças crônicas enfrentando a doença grave a até morrendo”, diz Leonardo Weissmann, infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). “A ciência ainda não sabe com precisão quem vai piorar e quem não vai.”

Folha