Cientistas não temem mais superpopulação

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Foto: Kevin Frayer/Getty Images

Um estudo do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde da Universidade de Washington traz uma revelação surpreendente e preocupante para o futuro da humanidade: o mundo está prestes a viver uma mudança profunda nas taxas de fertilidade, o que pode fazer a população de quase todos os países cair até o final do século.

O estudo publicado nesta quarta-feira, 15, no prestigiado jornal científico The Lancet mostra que a taxa de fertilidade global, que já vinha em ritmo de queda, atingiu o índice de 2,4, em 2017. O número era de 4,7, em 1950. A taxa de fertilidade calcula o número médio de filhos aos quais uma mulher dá à luz.

Segundo a pesquisa, se a taxa cair abaixo de 2,1, a população no mundo começa a diminuir. Matematicamente, a quantidade de habitantes no planeta permaneceria estável, já que cada casal teria dois filhos. Na prática, porém, o que se observa é um declínio porque a quantidade de mortes – em decorrência de doenças ou causas externas – costuma superar a quantidade de nascimentos.

O colapso global do nascimento de crianças pode fazer com que 23 países tenham suas populações reduzidas pela metade até 2100. Entre eles, estão algumas das nações mais desenvolvidas do mundo.

“Isso é uma coisa muito grande; a maior parte do mundo está em transição para o declínio natural da população”, disse o pesquisador Christopher Murray à BBC, “Teremos que reorganizar as sociedades”, completa.

Prevê-se que a população do Japão caia de um pico de 128 milhões em 2017 para menos de 53 milhões no final do século. Espera-se que a Itália veja um declínio populacional igualmente dramático, de 61 a 28 milhões no mesmo período. País mais populoso do mundo, a China deve atingir 1,4 bilhão de pessoas dentro de quatro anos, antes de cair pela metade para 732 milhões em 2100. Espanha, Coréia do Sul e Portugal devem viver fenômenos semelhantes.

Já o Brasil, segundo o estudo, atingirá um pico populacional de 235 milhões de habitantes em 2043 e terminar o século com 165 milhões de pessoas. No total, 183 dos 195 países do mundo terão uma taxa de fertilidade abaixo do nível de reposição.

A taxa de fertilidade está caindo por uma série de fatores. Em resumo, a vida moderna trouxe mais educação, incluiu a mulher no mercado de trabalho e permitiu um maior acesso aos métodos contraceptivos. Durante as últimas décadas, a queda nas taxas de natalidade contribuiu positivamente para o desenvolvimento dos países.

A inversão da pirâmide etária, em que a quantidade de pessoas jovens vai, aos poucos, se tornando semelhantes à população idosa, promove janelas de oportunidades, reduzindo a pressão sobre o estado por políticas sociais. O sistema de previdência é um exemplo clássico: durante algumas décadas a quantidade de trabalhadores da ativa se torna maior que o de pessoas que recebem os benefícios, o que ajuda a abastecer os cofres. Com o tempo, porém, a equação se inverte. Sem gente para produzir e com muitos idosos para sustentar, os impactos econômicos são significativos.

Nesse sentido, alguns dados do estudo que apontam para o envelhecimento da população tornam o quadro ainda mais dramático: o número de menores de cinco anos cairá de 681 milhões em 2017 para 401 milhões em 2100 e a quantidade de pessoas com mais de 80 anos passará de 141 milhões para 866 milhões no mesmo período.

Enquanto o Brasil ainda atravessa a janela de oportunidade, o envelhecimento da população e a baixa taxa de fertilidade já são problemas reais nos países desenvolvidos. Até o momento, a imigração foi a maneira encontrada para garantir a reposição de mão de obra no mercado de trabalho. Alguns países também lançaram mão de políticas como ampliação de licença maternidade e paternidade, assistência infantil gratuita e incentivos financeiros para casais engravidarem, mas elas ainda não trouxeram resultados à altura do problema. A Suécia elevou sua taxa de fertilidade de 1,7 para 1,9. Cingapura ainda tem uma taxa de fertilidade em torno de 1,3.

Se nada for feito sobre o tema, os pesquisadores projetam uma situação catastrófica em um futuro distante: “Se você não consegue [encontrar uma solução], eventualmente a espécie desaparece, mas isso é daqui a alguns séculos”, diz Murray.

A reposição de seres humano no mundo, se tornará cada vez mais dependente do continente africano. A população da África Subsaariana deverá triplicar de tamanho para mais de 3 bilhões de pessoas até 2100. o estudo projeta que a Nigéria será o segundo maior país do mundo, com uma população de 791 milhões, atrás da Índia que terá 1,09 bilhão de pessoas.

Como os movimentos de crescimento e o declínio de habitantes é desigual entre os países, não há como atacar o problema sem considerar a possibilidade de uma redistribuição de pessoas em idade ativa ao redor do globo, dizem os especialistas. “Mesmo se essas previsões forem nem metade exatas, a migração se tornará uma necessidade para todas as nações e não uma opção”, disse o professor Ibrahim Abubakar, da University College London (UCL), à BBC.

Um desafio a mais, já que a humanidade terá de enfrentar questões sempre presentes ao longo de sua história, mas nunca verdadeiramente apaziguadas: racismo, xenofobia e intolerância religiosa.

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