Empresários pedem a Bolsonaro que mantenha a boca fechada
Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Em almoço no Palácio da Alvorada, um grupo de empresários pediu nesta sexta-feira (3) ao presidente Jair Bolsonaro que mantenha o atual clima de pacificação com o Judiciário e o Legislativo e que adote medidas econômicas para destravar o acesso ao crédito no país.
O encontro foi articulado pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, e teve as presenças de empresários como Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, Francisco Gomes, da Embraer, Rubens Ometto, da Cosan, e Lorival Nogueira, da BRF.
Segundo relatos feitos à Folha, no encontro, os empresários presentes elogiaram a nova postura do presidente, adotada desde a semana passada, de evitar embates com o Congresso Nacional e com o STF (Supremo Tribunal Federal).
Eles ressaltaram que é necessário que o presidente não recue nessa postura, porque ela é essencial para promover a reconstrução da atividade econômica do país após o arrefecimento dos efeitos da pandemia do novo coronavírus.
“Saímos todos leves dessas reuniões. Sentimos um clima de pacificação e harmonia entre os chefes dos três Poderes. É disso que o Brasil precisa para iniciar a reconstrução com uma agenda de reformas e futuro”, disse Skaf à Folha.
Na reunião, que teve as presenças de ministros como Paulo Guedes (Economia) e Braga Netto (Casa Civil), empresários convidados também disseram que o problema de curto prazo da economia brasileira é a necessidade do governo federal lançar medidas para destravar o crédito.
Segundo a avaliação feita no almoço, o acesso ao crédito ainda não chegou à ponta da cadeia do consumo, o que é importante para restabelecer a economia brasileira, cuja previsão é de que enfrente uma recessão neste ano por causa da atual crise sanitária.
Os empresários presentes ainda defenderam uma sanção célere da medida provisória que prorroga o programa de suspensão de contrato de trabalho e corte de jornada.
A sanção presidencial da iniciativa foi atrasada por causa de um impasse entre Senado e Câmara.
Em razão da demora, nesta semana, começam a perder validade acordos de redução de jornada e corte salarial, cujo prazo máximo era de três meses.
Contratos que haviam sido suspensos pelo período máximo permitido começaram, por exemplo, a ser integralmente retomados em junho.
Para evitar uma judicialização da iniciativa, Bolsonaro se comprometeu a vetar trechos que foram posteriormente incluídos pelo Senado e não passaram pela Câmara.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a levar a questão ao STF, mas, após o acordo do veto, recuou.
Em uma tentativa de proteger os filhos, Bolsonaro deixou de lado desde a semana passada a postura beligerante, deu uma guinada em seu discurso público e passou a adotar um estilo “paz e amor”.
Em almoço nesta semana com um grupo de deputados, o presidente chegou a dizer que agora resolveu parar com brigas e priorizar projetos para o país, sobretudo focados na recuperação econômica.
Após operações policiais contra alvos próximos à sua família, Bolsonaro recuou em conduta agressiva e tem feito desde então gestos de pacificação ao Judiciário e ao Legislativo.
A mudança de postura ocorreu após pelo menos dois integrantes da equipe ministerial terem recomendado ponderação ao presidente: Fernando Azevedo (Defesa) e Fábio Faria (Comunicações).
De acordo com assessores palacianos, ambos sugeriram a Bolsonaro que intensifique o diálogo tanto com o Judiciário como com o Legislativo na tentativa de evitar novos reveses, entre eles contra seus filhos.
Em conversas reservadas, Bolsonaro tem demonstrado preocupação com as situações jurídicas do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Segundo relato de um deputado bolsonarista, o presidente chegou a se emocionar recentemente ao citar a possibilidade de uma operação ou de uma prisão de seus dois filhos mais velhos.