Filho de Eduardo Campos critica guinada do país à direita
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Com 26 anos, o deputado federal João Campos (PSB-PE), filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, é relator de uma matéria bem antiga no Congresso Nacional: a renda básica de cidadania que virou bordão de veteranos como o ex-senador, e hoje vereador de São Paulo, Eduardo Suplicy (PT-SP). A ideia compôs parte do seu discurso ao longo dos 20 anos que passou no Senado. Não à toa, Suplicy virou “presidente de honra” da comissão que tem a frente um dos 15 parlamentares mais novos da Câmara, assumidamente inspirado em veteranos da Casa.
Para João Campos, uma ideia para viabilizar a implementação dessa modalidade de renda é destinar entre 2,5% e 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país para o programa. A proposta tem ganhado corpo entre parlamentares e economistas, inclusive do governo, como forma de retomar o ânimo da economia no período pós-pandemia.
“Agora, mais do que nunca é o momento propício para isso porque a gente vai vier um momento disruptivo. Então, soluções inovadoras e modernas têm que ser tomadas e muitas das inovações podem ser fazer o que é simples, olhar para quem precisa”, disse o deputado, que é pré-candidato à prefeitura da capital pernambucana.
“A gente vê hoje que economistas de diversos espectros defendem a renda básica de maneira muito enfática, com modelos diferentes. Um defende uma abrangência mais curta, outros uma abrangência maior. Mas todos defendem o aumento da transferência de renda”, disse o deputado, em entrevista ao Metrópoles.
“Há caminho de implantação e de compatibilizar responsabilidade fiscal com responsabilidade social. Ninguém tem interesse em quebrar o Estado brasileiro. Ninguém tem o interesse em falir o Brasil, longe disso. Nós entendemos que há caminho se você pega de 2,5% a 3% do PIB e coloca isso para distribuição de renda. Então, eu acho que vamos conseguir fazer isso”, defendeu o parlamentar.
Campos é de uma família tradicional da política pernambucana, na qual se inspira. Neto de Miguel Arraes e filho de Eduardo Campos, seu pai morreu quando ele tinha apenas 20. Político carismático e experiente nas articulações, seu pai morreu em uma acidente de avião em plena campanha para a Presidência da República em 2014. Herdeiro do pai no partido, João Campos é o nome do PSB para concorrer à Prefeitura de Recife neste ano.
Ao falar do pai, ele justifica a sua paixão pela política.”Ele era uma pessoa muito completa. O que ele fazia, e que eu aprendi, é fazer da política um exercício de vida. Ele era inteiro naquilo. Então, ele se dedicava do momento que saia de casa com o coração, com a alma e com o corpo inteiro”, contou. João ainda fala que aprendeu com o pai a “coerência e a verdade nas decisões e na forma de fazer política”. “Ele despertava brilho no olho com isso”, disse.
Ao que tudo indica, João terá como adversária nas eleições deste ano a deputada Marília Arraes (PT-PE). Com apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela vem com uma plataforma contrária à de João.
Ao falar da prima adversária, ele minimiza os atritos. “Eu sou filiado a um partido político e ela a outro e os partidos têm direito de lançar candidaturas porque na democracia é assim”, enfatizou.
“Estamos vivemos diariamente sucessíveis riscos de perder coisas que conquistamos com muitas mãos, há várias gerações”, destacou. “Essa guinada que o Brasil deu, com viés conservador à direita e aos extremos tem destruído o direito das pessoas”, justificou.
Para viabilizar a sua candidatura, Campos conta com o apoio de partidos que hoje sustentam o governo de Jair Bolsonaro no Congresso, como o PP, o Pros e o Republicanos. Ele tenta marcar posição contra o presidente. “Eu me considero uma pessoa progressista no campo da esquerda sim”.
Mas defende os aliados. “São partidos que nacionalmente podem ter algumas pessoas com visões diferentes e isso não desvirtua o conceito de uma candidatura. O sistema partidário e eleitoral brasileiro forçou a construção de múltiplos partidos. É uma anomalia”, avaliou.
Ecoando a posição do Nordeste como a região mais crítica ao governo, João enfatiza sua oposição ao atual presidente. “Jamais vou abrir mão daquilo que eu acredito. Eu sou e faço oposição a Jair Bolsonaro, independente de estar como candidato ou não”, destacou. “Eu faço política com base no que eu creio que é melhor para as pessoas e o Jair Bolsonaro não é ruim apenas para oposição e para a esquerda. Ele é ruim para o povo”, disse.