Há 25 dias Bolsonaro não posta baixarias no Twitter

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Foto: Adriano Machado/Reuters

O novo tom adotado pelo presidente Jair Bolsonaro há quase um mês se refletiu também no Twitter, sua rede social preferida para anúncios e pronunciamentos. Hoje, Bolsonaro completa 25 dias sem atacar opositores em seu perfil. É uma mudança significativa na sua estratégia de comunicação, antes caracterizada por ofensas a adversários e pela incitação de sua militância mais radical.

O GLOBO fez um levantamento das publicações de Bolsonaro no Twitter de 18 de junho — dia da prisão de Fabrício Queiroz e após sua última aparição no cercadinho do Palácio do Alvorada — a 10 de julho e comparou com as postagens realizadas entre 26 de maio e 17 de junho. Ao todo, foram compilados 385 tuítes. As publicações foram divididas em três categorias: “ataque a opositores”, “ações do governo” e “reafirmação ideológica ou incitação de apoiadores” — neste último caso, são publicações sobre pautas caras ao bolsonarismo, como a flexibilização do porte de armas. O levantamento apontou que, após o dia 17 de junho, os ataques à oposição e o estímulo à militância mais radical praticamente desapareceram.

Nos 23 dias anteriores à prisão de Queiroz, Bolsonaro fez dez tuítes de ataques a adversários. Nos 23 dias posteriores, nenhum. No período anterior a 17 de junho, o presidente publicou 12 tuítes de crítica à imprensa e outros nove de crítica a opositores ou a instituições. A partir do dia 18, nenhuma publicação desses dois tipos foi registrada no perfil.

Somadas, as publicações com ataques a opositores, instituições ou a imprensa representam 14% do total de postagens até o dia 17. Em ambos os períodos, por outro lado, os tuítes de divulgação de ações do governo foram maioria, mas têm um peso maior a partir do dia 18: alcançam 81% do total, contra 61% anteriormente.

No Twitter, 'novo' Bolsonaro deixa críticas e ataques de lado

Outra mudança sensível foi o sumiço de tuítes que reforçavam a agenda ideológica do governo. No período anterior à prisão de Queiroz, foram 27 posts desse tipo. No período posterior, não houve registro de tuítes dessa categoria.

As publicações destinadas a estimular sua base registram o maior engajamento na conta do presidente. A postagem mais compartilhada, em todo o período do levantamento, é aquela que exibe a foto de um boneco de Bolsonaro pendurado a uma árvore de cabeça para baixo num protesto antifascista. “Essa é a turma que respeita a Democracia e as instituições”, escreveu o presidente no post, que teve mais de 33 mil compartilhamentos — enquanto a média da conta é de 4,3 mil por tuíte, segundo a ferramenta Truthnest.

— Quando o conteúdo é mais emocional, ele gera mais engajamento. Isso não vale só para o Bolsonaro — diz o cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Para Cervi, a mudança de tom de Bolsonaro não prejudicará o apoio de seu núcleo duro. A troca de estratégia resulta de um contexto que tornou a nova postura inadiável:

— Não considero que Bolsonaro está “domesticado”. Acho que ele está acuado. Não atribuo a mudança de tom apenas à prisão do Queiroz. Existem outros dois fatores de longo prazo que podem ter influenciado nessa mudança de comportamento: as ações no STF contra fake news e atos antidemocráticos e a queda da avaliação positiva do governo.

Para o antropólogo David Nemer, da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, os embates com o STF levaram o governo a perceber que as instituições não vão recuar:

— Bolsonaro não mudou, só trocou a forma como está lidando com as instituições. Ele sabe que o TSE vai continuar julgando sua chapa. Ficou bem claro que ninguém vai se intimidar com as falas dele.

O Globo