Infectologistas recomendam cuidados a quem esteve com Bolsonaro

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Foto: Secretaria-Geral/Divulgação

Pessoas que tiveram contato com o presidente Jair Bolsonaro a partir de sexta-feira, 3, dois dias antes de ele manifestar sintomas da covid-19, devem se isolar por, pelo menos, uma semana, recomenda o infectologista Julio Croda, ex-diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde e pesquisador da Fiocruz.

Para Croda, não é correto descumprir as medidas restritivas, como fez Bolsonaro nesta terça-feira, 7, ao anunciar em entrevista à imprensa que contraiu a doença, exceto em emergências. “Se pode evitar esse tipo de proximidade, é o ideal. Não tem nenhum tipo de necessidade (expor-se).”

O Palácio do Planalto, no entanto, não recomenda quarentena de pessoas que tiveram “simples contato” com o presidente. Em nota, o governo distorce orientações de autoridades de saúde e afirma que não há protocolo sobre isolar pessoa que estiveram com doentes. “A orientação que damos aos servidores é procurar assistência médica quando apresentarem sintomas relacionados à covid-19, para avaliar necessidade de testagem. Nos casos considerados suspeitos, os servidores são orientados a ficar em casa até o resultado do exame”, afirma o Planalto.

Na mesma nota, o governo informou que 108 dos 3.400 servidores do Palácio do Planalto testaram positivo para covid-19 até 3 de julho. “Não houve mortes e mais de 90% desses casos foram assintomáticos ou apresentaram apenas sintomas leves.”

A Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, afirma que é recomendável “ficar em casa” caso more com alguém infectado ou esteve a menos de um metro de um paciente com a doença. Imagens da agenda oficial de Bolsonaro mostram o presidente sem máscara em almoço na casa do embaixador dos Estados Unidos, no domingo, 5, e durante encontro com representantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na sexta-feira, 3.

A recomendação do Ministério da Saúde é menos rígida. Em documento de abril, a pasta recomenda isolamento de 14 dias de casos suspeitos ou confirmados. Os casos suspeitos, para o governo brasileiro, no entanto, são aqueles que tiveram contato próximo de um confirmado e, além disso, apresentam febre ou pelo menos um sintoma respiratório, como tosse ou dificuldade para respirar. No começo da pandemia, o ministério chegou a recomendar o isolamento para todas as pessoas que voltavam do exterior. A orientação foi derrubada, segundo fontes da pasta, por pressão do Palácio do Planalto para reduzir impactos sobre a economia e no funcionamento da máquina pública.

Bolsonaro sentiu os primeiros sintomas da covid-19 no domingo, 5. “Não se sabe quem vai desenvolver sintoma. É melhor que se fique isolado”, afirma o infectologista Croda. Se necessário, o teste do tipo RT-PCR, que detecta a presença do vírus, deve ser feito por volta de cinco dias após o contato com Bolsonaro. “Tem gente que já está fazendo exame. Mas, se der negativo, pode ser um resultado falso. Tem de refazer lá na frente”, afirmou o infectologista.

Como mostrou o Estadão, 13 ministros fizeram exames após Bolsonaro confirmar a infecção pela covid-19. Destes, realizaram teste rápido (sorológico) Paulo Guedes (Economia), Luiz Eduardo Ramos (Secretária de Governo), Braga Netto (Casa Civil), Levi Mello (AGU), Marcelo Alvaro Antonio (Turismo), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Roberto Campos Neto (Banco Central).

Os resultados foram todos negativos para a covid-19. Mas especialistas afirmam que nada adianta realizar este tipo de exame, pois ele serve para detectar anticorpos da doença e só deve ser aplicado após o sétimo dia de sintomas do novo coronavírus. Antes disso, a chance de acerto é mínima.

A OMS também é cautelosa sobre este tipo de exame. “Teste rápido para fazer diagnóstico é absolutamente contraindicado. É sim (recomendado) para, depois, procurar na população quem já tem anticorpo contra o vírus. Para fazer estudo, sim, é válido”, disse ao Estadão o médico e vice-diretor da Organização Pan Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, em abril.

Estadão