Metade da população quer incentivo à Cultura

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Foto: Reprodução/ Painel desta quarta-feira do ‘Brazil Forum UK’ debaterá desafios da cultura

Metade dos brasileiros concorda com a ideia de que devemos defender o incentivo à produção de todo tipo de manifestação cultural, “mesmo que não nos agrade”. A maioria da população, no entanto, acredita que, ao ser financiada com recursos públicos, a produção cultural deve “sempre exaltar as belezas” do Brasil. A informação é de pesquisa do instituto Ideia Big Data, e foi feita com exclusividade para o painel sobre os desafios da cultura do Brazil Forum UK 2020, que será realizado nesta quarta-feira, 1º, às 17h.

Segundo a pesquisa, 50% dos brasileiros concordam com o incentivo amplo à produção cultural, mesmo do que não seja de seu agrado, e 18% discordam da medida. São 25% os respondentes que não concordam nem discordam, e 7% não souberam responder.

Já a maior parte de população, 53%, concorda com a afirmação de que, “por receber recursos públicos, a produção cultural nacional deve sempre exaltar as belezas e as qualidades do Brasil”. São 16% os que discordam desta ideia, e o restante não tem opinião formada ou não soube responder.

O estudo, que tem margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos, foi feito entre a última semana de março e a primeira semana de abril deste ano, com pessoas maiores de 18 anos de todas as regiões do País. As entrevistas, realizadas por meio de um aplicativo de celular, foram ponderadas para garantir representatividade de gênero, idade, escolaridade, classe social e região dos respondentes.

Os resultados do levantamento farão parte da discussão do painel do Brazil Forum UK 2020 desta quarta, que reúne a cantora e compositora Teresa Cristina, o consultor cultural João Leiva, o dirigente do Itaú Cultural e diretor do MAM Eduardo Saron e a diretora do Observatório de Fortaleza Claudia Leitão para debater sobre os desafios de se produzir cultura no contexto atual.

A moderação será de Eduardo Carvalho, o único bolsista latinoamericano da Clore Leadership, programa do governo britânico voltado ao desenvolvimento de lideranças nas áreas de arte e cultura.

Carvalho destaca que, a seu ver, a percepção da população de que a cultura financiada com dinheiro público deve “exaltar” o País é “preocupante”. Na sua avaliação, esse tipo de concepção inibe a produção crítica de conteúdo e está ligada a regimes ditatoriais.

“Essa questão é um resquício de regimes autoritários”, afirma. “No regime Getúlio Vargas, houve investimento na cultura para exaltar as qualidades do Brasil fora do País; na ditadura militar (de 64), a mesma coisa”, afirma Carvalho. “Do contrário, você seria censurado”.

Ele relembra ainda a fala do então secretário de Cultura, Roberto Alvim, no início deste ano. “A arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, disse Alvim em vídeo. A frase foi equiparada a trechos de um discurso do ideólogo nazista Joseph Goebbels, e Alvim acabou demitido.

Segundo Carvalho, além deste ponto, a questão do financiamento da Cultura também é fundamental, e deverá ser pautada no debate. Nesta segunda-feira, 29, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a chamada Lei Aldir Blanc, que destina R$ 3 bilhões aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios, a serem aplicados pelos poderes executivos locais em ações emergenciais de apoio ao setor cultural. A Lei foi publicada em edição desta terça-feira, 30, do Diário Oficial da União.

Em sua quinta edição, o Brazil Forum UK traz o tema “What’s Next Brazil? Alternativas para múltiplos desafios”. O evento, que este ano ocorre virtualmente, é promovido pela comunidade de estudantes brasileiros no Reino Unido, e pode ser acompanhado pelas plataformas do Estadão.

Estadão