Mourão critica falta de ministro efetivo da Saúde
Foto: Sergio Lima/Bloomberg
Em duas oportunidades nesta segunda-feira o vice-presidente Hamilton Mourão criticou recentes declarações do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao deixar o Palácio do Planalto no início da noite, o general disse que o jurista foi “infeliz” e deveria se desculpar por ter dito que o Exército “está se associando a um genocídio”, ao comentar a política comandada pelo ministro interino da Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello.
“Quer fazer uma crítica ao ministro interino, ele faz. Agora, não tem que misturar alhos com bugalhos, nem usar o termo que ele utilizou”, disse Mourão. “Eu acho que seria uma boa prática ele reconsiderar e pedir desculpas pelo termo utilizado.”
A fala a que se refere Mourão foi proferida por Gilmar no sábado, em um debate online promovido pela revista “Isto É”. O ministro criticava a política do governo federal, que segundo ele estaria delegando a Estados e municípios a responsabilidade pelo combate ao coronavírus. Ele também se queixou do fato de o Ministério da Saúde passar por um “vazio”, em referência ao fato de a pasta estar há mais de dois meses sem um titular.
“Não podemos mais tolerar essa situação que se passa no Ministério da Saúde. Não é aceitável que se tenha esse vazio. Pode até se dizer: a estratégia é tirar o protagonismo do governo federal, é atribuir a responsabilidade a estados e municípios. Se for essa a intenção é preciso se fazer alguma coisa”, disse Gilmar. “Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso.”
O vice afirmou achar a crítica injusta, uma vez que “todos os secretários de saúde estaduais têm elogiado Pazuello” pelo trabalho que ele vem fazendo. “Pazuello vem solucionando os problemas que eles vêm enfrentando durante a pandemia. Na minha visão, e na visão do governo como um todo, a forma como o Ministério da Saúde tem que agir, solucionar os problemas”, afirmou.
Segundo ele, a declaração não tem potencial para reabrir uma crise entre os Poderes Executivo e Judiciário. “Não abre problema nenhum, não. Isso é questão de retórica de um membro do judiciário e nada mais além disso”, afirmou.
Mais cedo, em uma live, Mourão tinha dito que Gilmar “ultrapassou o limite da crítica” nesse comentário. “Gilmar Mendes não foi feliz. Vou usar linguagem do jogo de polo: ele cruzou a linha da bola. Atribuir essa culpa [pelas mortes na pandemia] ao Exército é forçar uma barra. Ele está criando um incidente com o Ministério da Defesa.”
Também nesta segunda, o Ministério da Defesa, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica reagiram às declarações de Gilmar e afirmaram que o Ministério encaminhará uma representação à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o magistrado. A cúpula das Forças Armadas classificou a acusação feita por Gilmar como “grave”, “infundada”, “irresponsável” e “leviana”.
Na live, transmitida por uma corretora de investimentos, o vice-presidente admitiu que não ter um ministro da Saúde efetivo durante a pandemia de covid-19 “não é o melhor dos mundos para enfrentar uma doença como essa” e que “está faltando” o Executivo fazer uma análise semanal dos dados de contágio e número de óbitos no país. “O governo deve fazer uma análise desses números [número de casos e óbitos por covid-19] e apresentar suas conclusões sobre o que aconteceu a cada semana, acho que isso está faltando.”
Em seguida, Mourão comemorou o que chamou de fase de “autoimunidade”. Segundo ele, os jovens nas periferias das grandes cidades estariam reagindo melhor à contaminação em comparação à classe média.
“Essa turma jovem da periferia foi criando uma autoimunidade [para a covid-19]. São Paulo está entrando na terceira semana com redução de número de casos e de óbitos. Começamos a entrar naquilo que seria a autoimunidade, graças ao fato de a doença ter chegado a essas áreas [de periferia] e essas áreas terem se mostrado mais fortes do que as de classe média”, disse.