MPF-RJ investiga munição da PF com assassinos de Marielle
Foto: Reprodução/ Veja
O Ministério Público Federal do Rio (MPF-RJ) rejeitou o pedido de arquivamento do inquérito da Polícia Federal que apurava como munições vendidas exclusivamente para o órgão foram parar nas mãos dos matadores da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes. O crime aconteceu no Centro do Rio de Janeiro em março de 2018.
As 1860 munições 9 milímetros do lote UZZ18 da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), originalmente encaminhadas para a Polícia Federal em Brasília, em 2006, foram distribuídas para as superintendências de todo o Brasil.
Pouco mais de dois anos depois do crime, a PF solicitou, no dia 29 de junho, o arquivamento da investigação por não chegar a uma conclusão sobre como as munições foram parar nas mãos de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, réus pelo crime.
Entre as constatações feitas pela PF, uma delas é que a munição usada pelos matadores pode ser a chama de “recarga”, ou seja, após ter sido usada numa ação envolvendo agentes da instituição, alguém pode ter pego os projéteis e os recarregado para uso futuro.
O MPF não acompanhou o pedido de arquivamento feito pela PF e, através do procurador Eduardo Benones, coordenador do Controle Externo da Atividade Policial no Rio, solicitou novas diligências para aprofundar a investigação. O inquérito da PF sobre o desvio de munições foi instaurado dois dias depois das mortes de Marielle e Anderson.
“Não autorizei o arquivamento e determinei algumas diligências por não estar convencido de que as investigações foram esgotadas”, ressaltou Benones.
O procurador pediu que sejam realizadas novas perícias nos projéteis para saber se faziam parte da carga original do fabricante. O objetivo é tentar traçar o caminho dessas munições e tentar entender como foram parar nas mãos dos matadores.
Fontes que atuaram no caso avaliam que o tema é complexo, em virtude dos constantes desvios de munição que ocorrem no Brasil, e da dificuldade de manter controle sobre os lotes.
Em meio às investigações sobre este caso, por exemplo, a PF descobriu que munições do mesmo lote foram usadas numa chacina com 17 mortos e sete feridos em São Paulo, em 2015. Além disso, meses depois do assassinato de Marielle, a PF também levantou que parte dos projéteis apareceu em um assalto em uma agência dos Correios na Paraíba, em 2017.
Em 2018, o então ministro da Justiça e Segurança Pública Raul Jungmann chegou a declarar que a PF tinha 50 investigações por todo o Brasil para apurar como houve o desvio deste lote de munições.