ONU diz que abertura econômica não dura se contágio não for contido

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Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Não há reabertura econômica possível sem controle do contágio da Covid-19 e um plano que evite novas transmissões, alertou nesta quinta-feira a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), em coletiva on-line com a Organização Pan-Americana para a Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas.

As duas instituições apresentaram um relatório conjunto sobre o impacto devastador da pandemia tanto na saúde quanto na economia da região. Elas defendem que uma mudança na estratégia de desenvolvimento, com atenção às populações vulneráveis, é essencial para uma recuperação inclusiva e sustentável na América Latina e no Caribe.

— Não se pode falar em abertura econômica sem que a curva de contágio da Covid-19 esteja controlada e sem um plano claro que evite uma segunda onda, com ações como reforço de testagem, rastreamento de contatos e isolamento social — afirmou Alicia Bárcena, secretária-executiva da Cepal.

Na última semana, destacou, a região das Américas registrou uma média de mais de 140 mil novos casos diários de Covid-19.

— Não há dilema entre economia e saúde. Primeiro, a saúde — disse Alicia.

A diretora-geral da Opas, Carissa Etienne, afirmou que forçar uma reabertura econômica no atual estágio de transmissão mundial do novo coronavírus coloca vidas em risco e amplia a incerteza trazida pela pandemia.

— Precisamos integrar abordagens de saúde e proteção social para mitigar o terrível impacto da Covid-19 em meios de subsistência econômicos para que quem está doente não precise escolher entre sua saúde, um teto ou comida para família. Ou cair na pobreza por contas médicas — destacou Carissa.

O relatório apresentado pela Cepal e a Opas reforça principalmente a importância de ajuda a populações vulneráveis. Entre as ações propostas, as instituições pedem a garantia de um auxílio emergencial durante seis meses para pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza. Destacam, ainda, a necessidade de um complemento extra para pessoas em pobreza extrema.

Outras medidas sugeridas foram políticas sociais universais, créditos ampliados a pequenas empresas e acesso a financiamento em condições favoráveis.

Os grupos mais vulneráveis, afirmam as duas instituições, são idosos, trabalhadores informais, mulheres, povos indígenas, negros, pessoas com deficiência e imigrantes.

Nesse ponto, a diretora-geral da Opas, Carissa Etienne, citou especificamente o caso brasileiro:

— No Brasil, 60 milhões de pessoas de pessoas não têm acesso à atenção primária.

A diretora da Cepal lembrou que essa é a pior crise em um século, que supõe mais de uma década perdida, com intensificação das desigualdades em uma região já desigual. O PIB da região, destacou Alicia, deve retroceder dez anos e cair 9,1% (a estimativa para o Brasil é de uma redução de 9,2% em 2020).

Já as exportações devem ter uma queda de 23%. As previsões sobre desemprego e pobreza também preocupam.

— A taxa de desemprego alcançará 13,5% (na região) e haverá 44 milhões de desempregados. Estima-se, também, que 2,7 milhões de empresas fechem as portas — alertou Alicia Bárcena.

A pobreza, acrescentaram as lideranças da Cepal e da Opas, deve aumentar de 30,2% para 37,3% do ano passado para este, o que significam 231 milhões de pessoas nessa condição. Já a pobreza extrema deve saltar de 11% para 15,5% no mesmo período.

Alicia reforçou ainda, sobre o risco de uma crise alimentar com o aumento da vulnerabilidade da saúde, com mais de 96 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema (11,8% da população urbana e 29% da população rural).

— Os governos locais têm tomado medidas importantes, mas insuficientes para dar conta da magnitude desse abismo. O risco de uma crise alimentar é real — afirmou.

O Globo