PTB convida Bolsonaro para disputar 2022
Foto: Eduardo Menezes/Segov
A consolidação da Aliança pelo Brasil, partido idealizado pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, passa por dificuldades. A legenda juntou apenas 3% das assinaturas exigidas pela Justiça Eleitoral, e a possibilidade de que a formalização não ocorra a tempo das eleições de 2022 começa a preocupar os partidários de Bolsonaro. Em meio a esse contexto, o ex-deputado Roberto Jefferson ofereceu seu partido, o PTB, para que Bolsonaro seja candidato à reeleição.
O convite não se deu nos bastidores, e sim em uma reunião oficial no último dia 7, da qual fez parte também o ministro General Ramos (Secretaria de Governo).
“Afirmei ao presidente Bolsonaro que tanto o PTB quanto ele e seu governo comungam do propósito de fazer com que o Brasil trilhe o caminho da competitividade, da eficiência, da modernidade e da prosperidade, e que seja um país com mais oportunidades de emprego e de empreender e com menos impostos e menos gastos públicos. E que somos os defensores da família, da vida, da liberdade, da propriedade, da democracia, da justiça e da Pátria, sagrados valores que os comunistas e socialistas tanto tentam destruir mas que nós, os alferes de Deus e leões conservadores, jamais permitiremos”, disse Jefferson ao site oficial do PTB.
O ex-deputado petebista afirmou à Rádio Bandeirantes que avalia em 50% as chances de Bolsonaro ingressar no PTB. Jefferson aposta em uma vinculação ideológica e em uma relação do passado para trazer Bolsonaro. O presidente foi do PTB em um breve período de sua experiência como deputado federal. Esteve no partido entre 2003 e 2005, quando a sigla se reforçou para fazer parte da base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então em seu início. Jefferson também tem adotado um discurso com pautas mais próximas das de Bolsonaro, como a defesa do acesso a armas e críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente do PTB também usa um discurso prático para fortalecer seu partido. Diz que os deputados federais bolsonaristas que estão hoje no PSL são “zumbis”, por terem suas atividades limitadas pela liderança do partido. Jefferson alega que no PTB eles teriam como fortalecerem seu desempenho na Câmara e que poderiam migrar ao Aliança após a formalização do partido. “Não vou prender ninguém”, disse.
O posicionamento do PTB como possível destino de Bolsonaro traz mais um partido a um jogo que já tem outros na disputa, como o PSD e principalmente o Republicanos (o ex-PRB) – sigla que recebeu recentemente dois filhos de Bolsonaro, o senador Flávio e o vereador Carlos.
Jefferson alega que o estatuto atual do PTB está modernizado e preparado para que o partido receba Bolsonaro. O documento foi atualizado em 2018 indicando uma guinada ao conservadorismo.
Em entrevista à Rádio Trianon no último dia 14, Jefferson falou que o novo estatuto do PTB excluiu o “peleguismo” que marcava o documento anterior e também removeu algumas influências da época de Getúlio Vargas. O PTB foi fundado por Getúlio como um partido trabalhista e com fortes características estatistas.
O novo estatuto do partido reflete o alinhamento entre Jefferson e algumas linhas de pensamento de Bolsonaro. “O PTB entende que o cidadão tem o direito à legítima defesa, portanto deve ter direito à posse de arma de fogo, conforme resultado de consulta popular realizada no país com essa finalidade específica e que nunca foi respeitada”, diz um trecho da carta.
Em outros trechos do estatudo, é destacado que o partido vê “a família” como base da educação e que defende o estabelecimento do “Estado mínimo”.
Também na entrevista à Trianon, Jefferson definiu o PTB com uma das frases-lema do bolsonarismo atual: “liberal na economia e conservador nos costumes”.
E, em suas opiniões sobre a pandemia de Covid-19, Jefferson endossou opiniões de Bolsonaro e de seus apoiadores, como relacionar o coronavírus ao Partido Comunista Chinês e criticar a atuação do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
Ele também disse que estuda mover, em nome do PTB, uma ação contra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por causa da declaração do magistrado sobre a responsabilização dos militares pelo “genocídio” na saúde pública em virtude da doença.
A conversão do PTB em um partido da direita conservadora representa uma grande guinada para uma legenda que “nunca assumiu qualquer postura ideológica”.
As palavras são do próprio Jefferson, em artigo de 2012 sobre a trajetória da sigla: “Desde aquele momento [década de 1940], ficou claro para a sociedade que surgia no cenário político uma sigla que se colocava como alternativa ao Partido Comunista e ao socialismo, e se afirmava como a melhor opção partidária para o trabalhador brasileiro. E passados 67 anos, o PTB, que nunca assumiu qualquer postura ideológica, continua a honrar seu compromisso com a classe trabalhadora e, agora também com os aposentados brasileiros”.
O PTB, em seu formato atual, existe desde 1981. O partido reivindica para si a história do antigo PTB que existiu entre 1945 e 1965 e que teve como principal líder o ex-presidente Getúlio Vargas.
Desde a redemocratização do país, porém, o atual PTB não obteve protagonismo nas disputas políticas. O partido lançou candidato à Presidência em apenas uma das oito últimas eleições presidenciais – na de 1989, a primeira após a ditadura.
Nas últimas décadas, o PTB se consagrou como sendo uma das siglas características a formar o Centrão. E a ideia do sem “qualquer postura ideológica” se traduziu pelas variações entre apoio e oposição demonstradas em relação aos diferentes governos que o Brasil teve no período.
Por exemplo, no início de 2003 o PTB foi turbinado para fazer parte da base do recém-empossado governo Lula. O partido recebeu deputados de diferentes partidos, que mudaram de sigla ainda antes da posse. Entre eles estava Jair Bolsonaro, que havia sido eleito no ano anterior pelo PPB.
O PTB teve ministros nos primeiros anos da gestão Lula até que, em 2005, foi deflagrado o escândalo do mensalão. Roberto Jefferson, já presidente do partido e então deputado federal, denunciou o esquema de compra de apoio parlamentar por parte da cúpula do PT – o próprio Jefferson foi condenado pelo STF e cumpriu pena de prisão por participar do mensalão.
A revelação sobre o esquema transformaram Jefferson em “persona non grata” no PT, mas não causaram um rompimento definitivo entre os partidos. Manifestações mútuas de apoio se repetiram em muitas ocasiões depois daquele momento.
O PTB compôs a base de Dilma Rousseff durante o primeiro mandato da ex-presidente, e considerou apoiá-la à reeleição até poucas semanas antes do início formal da campanha de 2014. O deputado estadual Campos Machado (SP), que era secretário-geral do partido e ainda ocupa o cargo, estava entre os que defendiam a adesão à candidatura petista. Por fim, o PTB acabou se coligando com Aécio Neves (PSDB), derrotado no segundo turno.
Posteriormente, o partido apoiou o impeachment de Dilma e integrou o governo de Michel Temer (MDB).
Nas eleições de 2018, a postura de coadjuvante do PTB foi mantida. O partido teve apenas três candidatos a governador em todo o Brasil. Apenas um teve um desempenho competitivo: Armando Monteiro, segundo colocado na disputa de Pernambuco. O partido elegeu 10 deputados federais e dois senadores – mas ambos, Lucas Barreto (AP) e Nelsinho Trad (MS), saíram da legenda ainda antes da posse. O PTB, hoje, não tem representantes no Senado: Telmário Mota (RR), eleito pelo partido em 2014, migrou para o Pros no início de 2019.
A adesão ao bolsonarismo pode trazer outros nomes para o PTB. O deputado federal Otoni de Paula (RJ), atualmente no PSC, acertou sua ida ao partido. E fora do Congresso, a sigla trouxe ainda no ano passado o ex-senador Delcídio do Amaral (MS).
Ex-petista e preso pela Lava Jato, Delcídio se tornou o presidente do PTB em seu estado. “Eu tenho profunda gratidão por ele. Ele está afinado conosco nesse novo pensamento do Partido Trabalhista Brasileiro”, afirmou Jefferson em entrevista recente ao Canal Terça Livre.
O jornalista responsável pelo Terça Livre, Allan dos Santos, e Jefferson estiveram entre os alvos de operação deflagrada no dia 27 de maio no âmbito do inquérito das fake news, conduzido pelo STF. Ambos são investigados por uma possível conexão com os atos antidemocráticos, em que manifestantes pediram, entre outras pautas, fechamento do STF e do Congresso Nacional.
Outro alvo da operação, o jornalista Oswaldo Eustáquio, se filiou ao PTB no último dia 8. O ingresso dele ao partido se deu poucos dias após o término de sua prisão, e foi referendado pelo próprio Jefferson.