Áudios de mulher de Queiroz desmentem advogado de Bolsonaro

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Foto: Jonne Roriz/VEJA

Em entrevista a VEJA em junho, o advogado Frederick Wassef disse ter dado guarida, em seu imóvel em Atibaia, ao policial militar aposentado Fabrício Queiroz por duas razões. A primeira seria humanitária: garantir a Queiroz um lugar para ele se hospedar em São Paulo durante o seu tratamento contra o câncer. A segunda seria política. Afeito a teorias da conspiração, Wassef alegou que havia um plano para matar o operador da rachadinha e acusar Jair Bolsonaro de ser o mandante do crime. Sua iniciativa, portanto, tinha o objetivo de evitar um assassinato e, ao mesmo tempo, um senhor desgaste político para o presidente da República. Wassef afirmou que nunca contou aos Bolsonaro que escondia Queiroz. Também garantiu nunca ter mantido contato, nem por telefone, com o ex-PM, que era representado na Justiça por outro defensor. Esse distanciamento seria necessário porque se houvesse contato, e este fosse descoberto, poderia parecer tentativa de combinar versões e de obstrução de Justiça. Mensagens de áudio obtidas com exclusividade por VEJA desmontam essa versão do advogado.

Em uma das mensagens, a advogada Ana Flávia Rigamonti, contratada por Wassef para fazer companhia a Queiroz, relata um encontro entre o policial militar aposentado e uma pessoa apelidada de “Anjo”, que o Ministério Público do Rio desconfia ser Wassef. “Estava todo mundo dormindo. Você sabe que, com o Anjo aqui, acaba todo mundo indo dormir tarde. Agora, o nosso amigo está conversando com o Anjo. Mas está tudo bem, sim”, disse Ana Flávia para Márcia de Aguiar, mulher de Queiroz, no dia 1º de dezembro de 2019. Dois minutos depois, Márcia respondeu: “Blz. Fiquei sabendo agora que o processo voltou para o Rio. Não sei direito, me falaram (sic)”.

Dias antes, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que era permitido ao Coaf, o órgão oficial de combate à lavagem de dinheiro que detectou as transações financeiras suspeitas de Queiroz, compartilhar informações com o Ministério Público (MP). A decisão representou uma derrota de Wassef e de seu cliente Flávio Bolsonaro e retirou da gaveta a investigação do esquema da rachadinha. Foi por isso que Queiroz e “Anjo” se encontraram para conversar sobre uma nova estratégia. “Então, eles comentaram aqui que entrou uma petição no processo, que acham que é do Ministério Público”, confidenciou Ana Flávia para Márcia.

Em áudios revelados na última edição de VEJA, a mulher de Queiroz queria que o marido parasse de se esconder e voltasse para o Rio e para o convívio com a família. Márcia alegava que eles não eram foragidos e só viviam assim por pressão do “Anjo”. “A nossa vida está sendo regida por ele, pelo que ele quer”, diz ela numa mensagem. Márcia também pedia a ajuda de Ana Flávia para convencer o “Anjo” de desistir da ideia de alugar uma casa em São Paulo para esconder toda a família de Queiroz. O plano do advogado era tirar todo mundo do mapa. Além da própria mulher, duas filhas de Queiroz trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio e repassaram parte dos salários recebidos ao pai. Num dos áudios, Ana Flávia diz a Márcia que não será fácil fazer o “Anjo” mudar de ideia. “Ele vai fazer terror, né. A gente já sabe”, respondeu a mulher de Queiroz. O terror, como indica a entrevista de Wassef a VEJA, seria a existência do tal plano para assassinar Queiroz. Wassef nega ser o “Anjo”.

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