Baixo isolamento aumenta pandemia e melhora o PIB
Foto: Kaio Lakaio/VEJA
Semana a semana, a estimativa do mercado financeiro para o desenvolvimento da economia brasileira dá passos rumo a sinais positivos. Depois de atingir o “fundo do poço”, com previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 6,54%, analistas ouvidos pelo Banco Central passaram a enxergar uma melhora para a economia. No Boletim Focus desta semana, a estimativa é que a economia brasileira recue 5,62%, a sexta revisão seguida para cima. O processo de retomada das atividades econômicas, que acelerou em junho em boa parte do país, culminou na melhora de alguns indicadores como indústria e comércio. Esses indicadores ajudaram a melhorar o pessimismo generalizado e puxam revisões semanais na economia. Para 2021, a estimativa do mercado é de crescimento de 3,5% há 11 semanas consecutivas.
A projeção para o PIB começou a seguir, ao fim de fevereiro, uma curva de queda drástica, acompanhando os novos casos de Covid-19 e os anúncios das prefeituras e estados brasileiros sobre o isolamento social, devido a disparada do contágio da doença. Após as estimativas para o PIB ficarem estáveis em junho, os resultados a partir de então apontam para uma retomada. Apesar das projeções do mercado financeiro não apontarem para uma recuperação em “V”, as melhoras semanais são indicativos de volta da atividade econômica. A recomposição de renda trazida pelo auxílio emergencial a trabalhadores informais, que paga cinco parcelas de 600 reais a vulneráveis mais afetados pela crise, é um dos colchões que seguraram a economia brasileira durante a fase mais aguda da crise. Com o auxílio chegando a sua quinta e última parcela, há tensão sobre o impacto que o fim da ajuda trará a economia, ao mesmo tempo que o governo sofre pressões para prorrogar o programa, que custa 50 bilhões de reais ao mês.
Apesar da melhora nas projeções apresentadas, a recessão é significativa e atinge o país no ano em que se esperava uma reação da economia, que dava sinais de recuperação da crise vivida entre 2015 e 2016. No início do ano, a expectativa do mercado financeiro era de que a economia brasileira crescesse 2,3%, acima dos desempenhos de 2017 e 2018 (+1,3%) e 2019 (1,1%).
Além da recessão indicada pelo PIB, a pandemia de Covid-19 tem mais consequências em indicadores da economia brasileira. Por ser uma crise que afeta a demanda do consumo, há queda na inflação. Os economistas consultados pelo BC estimam que o IPCA, que mede a inflação oficial do país, termine o ano em 1,63%, mesma previsão da semana anterior. O resultado esperado está abaixo da meta traçada, que é de 4%, e também abaixo da margem de tolerância, que varia entre 2,5% e 5,5% para este ano. Apesar da inflação baixa, o IPCA é um termômetro importante e indica que as pessoas voltaram a consumir. Após deflação em abril e maio, o IPCA e junho foi positivo, assim como os dados de julho, com alta de 0,36% nos preços. Para 2021 e 2022, a perspectiva continua em 3,00% e 3,50%.
A pesquisa mostrou também que a expectativa do mercado brasileiro sobre a taxa Selic se mantém igual à da semana anterior: em 2% para este ano, taxa atual. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) baixou 0,25 ponto porcentual a taxa, como estímulo adicional. Apesar da preocupação com o risco fiscal, o Comitê deixou a porta aberta para novos cortes, porém o mercado financeiro ainda não aposta em mais ajustes da Selic neste ano. Já o câmbio, que reflete as incertezas do Brasil e acaba sendo prejudicado pela baixa Selic, continua alto. A perspectiva do Focus é que o dólar fique em 5,20 no final de 2020. Para o final de 2021, a perspectiva permanece em 5 reais e para 2022, 4,80 reais.