Explodem protestos em Belarus após fraude eleitoral
Foto: Reuters/ Tut. by
A capital de Belarus, Minsk, foi tomada por protestos na noite deste domingo (09/08) após o anúncio de que o líder do país, Alexander Lukashenko, havia conquistado uma vitória esmagadora nas eleições presidenciais e se encaminhava para permanecer mais cinco anos no poder. Chamado de o “último ditador da Europa”, Lukashenko comanda Belarus desde 1994. Opositores afirmam que o pleito não passou de uma eleição de fachada marcada por fraudes.
Imagens transmitidas por redes internacionais mostraram a polícia lançando gás lacrimogênio, disparando balas de borracha, usando canhões d’água e golpeando manifestantes. Segundo a ONG de direitos humanos Viasna, pelo menos 220 pessoas foram presas nos protestos, incluindo 55 observadores eleitorais. Já o governo afirmou que cerca de 3 mil pessoas foram detidas.
Dezenas ficaram feridas. A Viasna afirma que tem informações seguras de que um manifestante morreu após ser atropelado por um veículo da polícia. A internet do país também sofreu interrupções constantes ao longo do domingo, no que foi visto como uma tentativa de enfraquecer a convocação de protestos e publicação de mensagens com críticas ao processo eleitoral.
Além de Minsk, protestos foram registrados em cerca de outras 20 cidades do país. Especialistas que acompanham a situação política de Belarus afirmaram a jornais europeus que as manifestações parecem ter sido as maiores já registradas desde que Lukashenko assumiu a liderança do país, 26 anos atrás.
Os protestos eclodiram após a imprensa estatal afirmar que Lukashenko havia sido reeleito com quase 80% dos votos, derrotando a candidata Svetlana Tikhanovskaya, cuja campanha deu novo impulso ao movimento de oposição no país.
Segundo os resultados divulgados pela comissão eleitoral do país nesta segunda-feira, Lukashenko obteve 80.23% dos votos, enquanto Tikhanovskaya recebeu apenas 9,9%.
A votação não pôde ser acompanhada por observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que visa a promoção da democracia e dos direitos humanos no continente. Vários países europeus, incluindo a Alemanha, criticaram o processo eleitoral em Belarus. Nos meses anteriores ao pleito, as autoridades de Belarus excluíram as candidaturas de vários líderes oposicionistas.
O governo alemão considerou nesta segunda-feira que as eleições presidenciais em Belarus foram afetadas por “irregularidades sistemáticas” e não cumpriram “os padrões democráticos mínimos”.
Tkhanovskaya, de 37 anos, foi escolhida para concorrer depois que as autoridades impuseram forte repressão contra figuras da oposição, incluindo seu marido. O principal rival de Lukashenko, Viktor Babariko, foi preso em junho por acusações de fraude e peculato. Apesar da inexperiência política, Tkhanovskaya representou o maior desafio já imposto a Lukashenko. Os comícios dela atraíram algumas das maiores multidões observadas no país desde a queda da União Soviética, em 1991. A candidatura deu origem a um novo movimento informal de protesto.
A reação das autoridades foi reprimir o movimento. Mais de mil manifestantes foram presos desde o início da campanha eleitoral, em maio, segundo a ONG Viasna. No sábado, véspera do pleito, pelo menos nove membros da campanha de Tkhanovskaya foram detidos. A própria candidata se escondeu para evitar ser presa.
Jornalistas também foram detidos durante a campanha, incluindo o correspondente da DW Alexander Burakov. O país aparece na 153ª posição no ranking de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras, que inclui 180 países.
No poder desde 1994, Lukashenko, de 65 anos, um ex-gerente de fazenda coletiva soviética costuma ser rotulado como “o último ditador da Europa” por publicações ocidentais e críticos. Sob sua gestão, o empobrecido Belarus, que tem 9,5 milhões de habitantes, é citado regularmente em relatórios sobre abusos de direitos humanos.
Antes da votação, Lukashenko advertiu que a dissidência não seria tolerada e que ele não desistiria de sua “amada” Belarus. “Não vamos dar o país a vocês”, disse Lukashenko, se referindo a seus oponentes, ao falar à nação no início desta semana.
Na última votação, em 2015, Lukashenko declarado vencedor com 83,5% dos votos. Não houve desafiantes de peso, e os observadores eleitorais relataram irregularidades na contagem dos votos.
Mais recentemente, Lukashenko também foi criticado por causa de sua gestão da pandemia de coronavírus. Em março, ele ridicularizou o perigo representado pelo vírus como “frenesi” e uma “psicose”. Em vez de impor medidas amplas de isolamento, o líder recomendou à época, sem qualquer base científica, que a população do país empobrecido bebesse vodca e fosse à sauna para combater o coronavírus.
Belarus tem oficialmente mais de 68 mil casos de covid-19 e cerca de 580 mortes. Críticos afirmam que os números foram manipulados e que a situação real é bem pior. Lukashenko anunciou no mês passado que foi infectado pelo novo coronavírus, mas não apresentou sintomas. Ele defende sua gestão da pandemia e afirma que um lockdown teria piorado ainda mais a situação econômica.