Extremistas de direita se financiam vendendo livros nas redes

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Foto: IGO ESTRELA/METRÓPOLES

Os influenciadores digitais da ala mais extremista do bolsonarismo têm em comum um apurado senso de empreendedorismo e trabalham para aliar militância política e lucro. E apesar de o mercado editorial passar por intensas dificuldades nos últimos anos, uma profissão que praticamente todos os seguidores do guru Olavo de Carvalho que fazem sucesso na internet têm é a de livreiro. Com empresas como YouTube e Paypal atendendo a apelos para deixar de ajudar a financiar o extremismo e a desinformação, a venda de livros parece ter se tornado ainda mais importante para esses militantes.

E o que parece ser uma grande quantidade de livrarias oferecendo obras de temática conservadora é, na verdade, uma única empresa que funciona como guarda-chuvas para abrigar as iniciativas de influenciadores como Bernardo Küster, Lilo, Bene Barbosa, Paula Marisa e Italo Marsili, médico que os olavistas já tentaram emplacar como ministro da Saúde.

A empresa, que se chama Cedet e tem sede em Campinas (SP), oferece uma espécie de locação de livrarias on-line para influencers (nenhum de esquerda). Eles precisam apenas escolher, de um catálogo que é da empresa, os livros que vão oferecer em suas livrarias e fazer a publicidade do serviço. Cabe ao Sedet operacionalizar todo o sistema, da cobrança à pós-venda.

Os influenciadores, entre eles investigados em inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) como Sara “Winter” Giromini (foto em destaque) e Allan dos Santos, não precisam, portanto, nem guardar os livros que ofertam – a maioria denunciando o globalismo e a esquerda. Cabe a eles uma parte dos lucros das vendas, que podem ser pagas via boleto ou depósito, driblando as regras de empresas como o PayPal.

O próprio Olavo de Carvalho, guru da turma, mantém uma livraria no espaço, sob o selo de seu curso on-line de filosofia.

Filho do presidente da República, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) recentemente usou sua influência nas redes para divulgar uma das livrarias, a de Küster, depois que seu canal no YouTube foi desmonetizado pela plataforma e uma vaquinha virtual que ele mantinha também foi derrubada.

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Carvalho, que teve sua conta no PayPal bloqueada após colocar em dúvida a pandemia de coronavírus, é outro que tem feito campanha para que seus seguidores usem formas alternativas de financiá-lo, incluindo a livraria.

Em seu site, o Cedet oferece um cadastro para os interessados em manter uma livraria virtual no espaço e informa que não há custos de manutenção, mas que a empresa precisa ter potencial de venda. Ou seja, é preciso, teoricamente, que o influenciador seja mesmo influente.

O Metrópoles entrou em contato com a empresa para fazer perguntas sobre o modelo de negócios, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.

A empresa, conforme já havia registrado uma reportagem do The Intercept Brasil em fevereiro deste ano, pertence a bolsonaristas seguidores de Olavo de Carvalho.

Os sócios-administradores, César Kyn D’Ávila e Vinícius Belandrino Bardella, são alunos do guru. Há mais sócias: Adelice Leite de Godoy D’Ávila, que é esposa de César, e Deise Fabiana Ely, que é companheira de um sócio de Olavo de Carvalho, o editor Silvio Grimaldo, que controla o jornal olavista Brasil sem Medo (que também tem livraria virtual na empresa).

Metrópoles