Grupos pró-democracia querem manter mobilização
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Passados dois meses e uma crise política que arrefeceu com o esforço de moderação de Jair Bolsonaro, grupos que lançaram manifesto se opondo aos avanços do presidente contra as instituições e a favor da democracia agora tentam manter a pauta viva.
A proximidade da trágica marca dos 100 mil mortos pela Covid-19 e o 7 de setembro devem ser janelas de oportunidades para alguns deles. Outros, no entanto, viram seu intuito inicial se perder pelo caminho.
O Estamos Juntos, por exemplo, que lançou um manifesto pela democracia no fim de maio e uniu personalidades da esquerda à direita, fará uma ação no próximo domingo em homenagem às vítimas da pandemia. O grupo é crítico à forma com que o governo federal tem combatido a crise sanitária.
Além disso, a organização reabriu nesta semana os grupos de discussão dos apoiadores no WhatsApp, fechados desde o ataque hacker que o grupo sofreu após o lançamento do manifesto.
Agora, o grupo pretende começar a usar esse canal para distribuir conteúdos informativos sobre democracia e cidadania. Segundo Carolina Kotscho, uma das lideranças do Estamos Juntos, existem cerca de 20 mil pessoas espalhadas por 160 grupos de WhatsApp conectadas ao movimento para receber essas mensagens.
— A gente está desenhando uma agenda de pequenas ações de mobilização. Estamos produzindo conteúdo sobre entender o que é democracia e cidadania e vamos começar a distribuí-lo. É uma tentativa de desintoxicar o debate político, mas também valorizá-lo — afirma ela.
Carolina diz que o “campo progressista” se distanciou muito da sociedade, um dos motivos pelos quais, segundo ela, Bolsonaro conseguiu tanto acesso às pessoas por meio das redes sociais. Para ela, o momento é de ouvir o que essas milhares de pessoas têm a dizer e decidir os rumos do Estamos Juntos a partir dessa percepção.
— Se a gente não escutar, não vai chegar a lugar nenhum. A gente não pode achar que está sempre certo e continuar pregando para convertido. A proposta do nosso movimento é que essa relação horizontal se estabeleça — diz Carolina.
O economista Eduardo Moreira, criador do manifesto Somos 70%, tem usado a marca da campanha nas lives do Instagram que ele faz diariamente. Mas ele diz acreditar que a moderação de Bolsonaro tenha enfraquecido a agenda do movimento.
— Se o Bolsonaro recua, as forças de oposição acabam perdendo força, porque elas são alimentadas pelas barbaridades do presidente. O sentimento da agenda democrática não mudou. O que muda é o espaço na primeira página do jornal — diz Moreira.
O Somos 70%, que é mais uma campanha do que propriamente um grupo organizado, não tem ações planejadas para as próximas semanas. Eduardo Moreira, no entanto, diz que tem sido convidado para marcar presença em eventos virtuais a fim de endossar a pauta democrática.
O advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, porta-voz do Basta!, manifesto que reúne profissionais do Direito também de diferentes campos ideológicos, diz que o grupo tem se mantido atento a fatos preocupantes. Ele afirma que seus pares vão se juntar à ação do Estamos Juntos no próximo domingo.
Apesar de o Basta! não ter colocado outras ações em prática nos últimos dois meses, ele diz que seus integrantes estão atentos a recentes fatos políticos que julgou preocupantes. Ele cita o suposto dossiê elaborado dentro do Ministério da Justiça para monitorar opositores, a “falta de sensibilidade” do governo frente à pandemia e a crise na Procuradoria-Geral da República como situações de risco democrático.
Danilo Pássaro, integrante de uma torcida organizada do Corinthians e liderança do Somos Democracia, por sua vez, pretende tomar outro rumo. Após organizar os protestos antifascistas e pró-democracia de meses atrás, ele agora se prepara para lançar sua candidatura à vereança de São Paulo pelo PSOL.
Ainda que tenham tomado seus próprios caminhos, Mariz diz ver todos esses grupos se juntando no futuro. Mas, para ele, esse cenário dependerá do que acontecer na política brasileira.
— Suponha que haja um fato que obrigue-nos todos a uma manifestação no mesmo sentido. Nesse momento haverá uma união de todos, cujo objetivo é a manutenção da democracia. Mas uma coisa é certa: nós jamais apoiaremos a reeleição de Jair Bolsonaro — declara o advogado.