Guedes diz que só fica no cargo se governo continuar neoliberal
Foto: Eraldo Peres/AP
Diante da debandada de auxiliares, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sinalizou a interlocutores – de dentro e de fora do governo – que espera um compromisso público do presidente Jair Bolsonaro com a agenda liberal.
Segundo apurou o Valor PRO, o serviço em tempo real do Valor, Guedes descarta a possibilidade de deixar o cargo, mas demonstrou disposição de não esconder mais sua irritação com outros integrantes da Esplanada dos Ministérios que ampliaram a ofensiva para flexibilizar o teto de gastos públicos. O receio de integrantes da equipe econômica é que o governo abandone as políticas públicas prometidas desde a campanha eleitoral para centrar esforços na reeleição do presidente.
O gesto de Bolsonaro esperado por Guedes evitaria, assim, rumores sobre um eventual desmonte do programa econômico e o risco de uma guinada.
O ministro tem dito que Bolsonaro mantém o compromisso com o ajuste fiscal e que não colocou no seu radar o envio de uma proposta de flexibilização para o teto. Na avaliação dele, contudo, o posicionamento público do presidente é necessário para conter desconfianças de que o chefe do Poder Executivo esteja “flertando com a gastança, adotando uma guinada populista”, já que vem ampliando apoio político e popular após a implementação do auxílio emergencial.
Parlamentares ouvidos pelo Valor PRO apontam que o movimento seria “crucial” para que a imagem de Guedes não ficasse enfraquecida.
Nesta quarta, Bolsonaro publicou mensagem em sua página no Facebook, reafirmando seu apoio às privatizações e à redução do tamanho do Estado. Disse que o norte de seu governo “continua sendo a responsabilidade fiscal e o teto de gastos”
Em conversas reservadas, Guedes tem demonstrado incômodo com a atuação da Casa Civil, que, em sua avaliação, tem endossado a agenda de ampliação dos investimentos públicos sugerida pelos ministros do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e da Infraestrutura, Tarcísio Freitas.
Sem citar os ministros, Guedes criticou, em entrevista a jornalistas, a iniciativa de “conselheiros” de Bolsonaro para que ele “fure” o teto de gastos. As declarações foram feitas depois de os secretários especiais de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e o de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, pedirem demissão.
Enquanto Mattar justificou a demissão pela demora do avanço do programa de privatizações, Uebel argumentou que não concordava com a decisão do governo federal de encaminhar a reforma administrativa ao Congresso apenas no ano que vem. A expectativa dos interlocutores é que o ministro faça uma reestruturação da pasta para reforçar a imagem de que a equipe econômica segue comprometida com a agenda liberal.