Maioria da União Europeia apoia sanções contra Bielorrússia

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Foto: SERGEI GAPON / AFP

A tolerância da União Europeia com o regime de Alexander Lukashenko está se esgotando, conforme o anúncio de novas sanções à Bielorrússia parece inevitável. A gota d’água para o bloco foi a forte repressão aos incessantes protestos que tomaram o país contra o resultado das contestadas eleições, nas quais o presidente se proclamou vitorioso com 80% dos votos.

Os chanceleres dos 27 Estados-membros da UE participaram, nesta sexta, de uma reunião extraordinária na qual concordaram em elaborar uma lista de alvos para as sanções, que provavelmente consistirão em vetos à entrada na UE e o congelamento de contas bancárias no bloco. Tudo indica que as medidas são inevitáveis a menos que Lukashenko, no poder há 26 anos, dê uma pouco provável guinada democrática.

Desde o pleito, diversas denúncias de fraude vieram à tona, e ao menos duas pessoas morreram nas manifestações. Mais de seis mil foram detidas, enquanto vêm à tona relatos de tortura e privação de sono, água e comida nas prisões. Ameaças levaram ainda a principal concorrente de Lukashenko, Svetlana Tsikhanouskaya, a abandonar o país.

O governo, que fez um raro pedido de desculpas na quinta, diz ter soltado cerca de 2 mil manifestantes, medida insuficiente para cessar as manifestações. Indicando que a insatisfação não é exclusiva da classe média urbana, há dias greves e protestos tomam as indústrias do país, espinha dorsal do apoio ao presidente, que classificou a paralisação como um “pão abençoado para a competição estrangeira”.

Segundo o site independente Meduza, mobilizações acontecem em fábricas por todo o país, incluindo indústrias téxteis, frigoríficas, na Planta Automobilística de Minsk (MAZ) e na fábrica de tratores da capital (MTZ), onde mais de 20 pessoas pediram demissão. Os protestos das últimas semanas e as mobilizações que antecederam as eleições, lideradas por Tsikhanouskaya e suas aliadas, são os maiores desafios em décadas ao regime autoritário.

Vários jornalistas e âncoras de canais estatais também pediram demissão, enquanto os protestos nas ruas adentram seu sexto dia consecutivo. De seu exílio na Lituânia, Tsikhanouskaya agradeceu o apoio e demandou uma investigação oficial e a recontagem dos votos, incentivando que a mobilização popular não pare:

— Os bielorrussos nunca irão querer viver novamente com as autoridades antigas — afirmou, convocando protestos pacíficos para o fim de semana. — Vamos defender a nossa escolha. Não fique nas coxias, nossas vozes precisam ser ouvidas.

Até o momento, ao menos nove países da União Europeia, além da liderança executiva do bloco, já defenderam a reimposição de sanções contra Minsk, aliviadas em 2016. Desde então, as únicas restrições em vigor proíbem a venda de armas e de materiais que possam ser usados na repressão, além do congelamento de bens e da proibição da entrada de quatro integrantes do governo no solo europeu.

O movimento de revogação e implementação das restrições a Minsk não é incomum, em meio às denúncias recorrentes de corrupção, violações dos direitos humanos e afrontas à democracia. As restrições europeias foram originalmente impostas em 2004 e endurecidas sete anos depois. Em seu auge, chegaram a englobar 170 cidadãos bielorrussos.

Horas antes do início da conferência desta sexta, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, posicionou-se a favor do enrijecimento da relação com a Bielorrússia. Em um pronunciamento pouco habitual, disse em seu Twitter que “precisamos de novas sanções contra aqueles que violaram os valores democráticos ou abusaram dos direitos humanos”.

O maior obstáculo para reimplementá-las é líder ultradireitista húngaro, Viktor Orbán, que em junho havia defendido a suspensão de todas as restrições impostas a Minsk. Ao que tudo indica, no entanto, até mesmo ele parece cada vez mais disposto a não apresentar objeções, concordando com uma lista seleta de nomes para serem penalizados.

A chanceler alemã Angela Merkel, que demandou a soltura imediata dos manifestantes, defendeu ao lado da Áustria e da Suécia sanções imediatas. Em carta, os governos da República Tcheca, Estônia, Letônia, Lituânia e Dinamarca demandaram “medidas restritivas” e defenderam “um balanço cuidadoso entre a pressão e o engajamento” com Lukashenko.

O grupo defende moderação por temer que uma forte pressão sobre Minsk a leve definitivamente para a esfera de poder russa. Apesar do regime autoritário, a Bielorrússia é considerada uma peça particularmente importante para a UE e, em especial, para os três países-membros com os quais faz fronteira (Lituânia, Letônia e Polônia).

A aproximação ganhou forças em meio às rusgas entre Lukashenko e o presidente Vladimir Putin — o líder bielorrusso suspeita que os vizinho tenha planos de anexar o país. Após Minsk libertar prisioneiros políticos há quatro anos, Bruxelas ampliou sua ajuda financeira e facilitou a vistos de entrada a cidadãos bielorrussos, entre outras medidas.

O Globo