Novo líder do governo foi ministro de Temer
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
No exemplo mais flagrante da influência que os partidos do Centrão exercem no governo federal, o presidente Jair Bolsonaro anunciou na terça-feira, 12, que o deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR) será o novo líder da administração na Câmara. Uma posição à qual Barros está acostumado. Ele ocupou o mesmo posto durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e foi vice-líder na Casa durante os mandatos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Barros é deputado desde 1995 e também pode ser considerado mais um antagonista ao “lavajatismo” que ganha força com Bolsonaro.
O político do Progressistas assumirá o posto oficialmente na terça-feira, 18. Ele substituirá o Major Vitor Hugo (PSL-GO), um amigo de longa data de Bolsonaro que resistiu mais do que se esperava na liderança da Câmara. Visto pelos parlamentares mais experientes como um deputado sem traquejo político, Vitor Hugo acumulava problemas com o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, responsável por articular a relação do governo com o Legislativo.
Barros, por outro lado, é visto como um hábil negociador no Congresso. Ele desempenhará a função que o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) vinha exercendo de forma informal. Lira, inclusive, deu indícios nos bastidores de que se opunha à indicação de Barros para o cargo. O deputado alagoano pretende se candidatar no próximo ano para a presidência da Câmara e não gostaria de ter sua influência junto ao governo ofuscada pela atuação do colega de partido.
O deputado, que também foi ministro da Saúde durante o governo de Michel Temer (MDB), vinha acumulando influência junto ao Palácio do Planalto desde que Bolsonaro foi obrigado a se aproximar do Centrão para garantir governabilidade no Legislativo e evitar um processo de impeachment. Entre os cargos que negociou com o bloco de partidos fisiológicos, o presidente cedeu a Secretaria Nacional de Mobilidade, do Ministério do Desenvolvimento Regional, para um nome indicado por Barros: o advogado Tiago Pontes Queiroz.
A designação de Barros como líder do governo também amplia o fosso entre o bolsonarismo e o lavajatismo, escancarado após a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Barros foi o relator do projeto de lei contra o abuso de autoridade, visto à época como uma reação do Legislativo para frear investigações que avançavam contra políticos de diferentes partidos.
Eleito em 2018 com um forte discurso de combate à corrupção, Bolsonaro agora terá ao seu lado um político que é um velho conhecido da Justiça. Em 2009, Barros foi condenado a ressarcir os cofres públicos por fraude na venda de maquinário público durante o período em que foi prefeito de Maringá, o primeiro cargo eletivo que ocupou entre 1989 e 1993. Anos mais tarde, em 2016, o deputado apareceu na lista da Odebrecht como um suposto beneficiário do esquema de propinas pagas pela empreiteira a políticos.
Já no ano passado, Barros foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por atos de improbidade administrativa na época em que foi ministro da Saúde. Uma investigação iniciada em 2017 apontou irregularidades na condução dos processos de aquisição dos medicamentos para tratamento de doenças raras. Segundo o MPF, o desabastecimento de remédios provocado pelas fraudes acarretou na morte de pelo menos 14 pacientes. Entre os denunciados no processo estava Tiago Pontes Queiroz, o indicado de Barros para o Ministério do Desenvolvimento Regional.
Também no ano passado, em outubro, Barros teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral por uma suposta compra de votos na eleição de 2018. O deputado ingressou com um recurso em instâncias superiores e conseguiu anular a decisão em janeiro deste ano.
Filho de um ex-prefeito de Maringá, o deputado exerce profunda influência na política paranaense. Antes de deixar o Ministério da Saúde para se candidatar ao Legislativo na última eleição, Barros destinou 500 milhões de reais de sobras do orçamento da pasta para programas e melhorias em cidades do Paraná. Ele é casado com a ex-governadora Cida Borghetti (Progressistas), que assumiu o Executivo estadual após Beto Richa (PSDB) renunciar para concorrer ao Senado em 2018.