Pandemia obrigará partidos a convenções drive-thru
Foto: Ana Paula Paiva/Valor
A pandemia fez com que partidos políticos abandonassem neste ano a tradição de fazer grandes festas para marcar o primeiro ato do calendário eleitoral, as convenções, que oficializam a escolha de candidatos a prefeito, vice e vereador. A Justiça Eleitoral autorizou encontro virtuais para marcar esse momento, mas há legendas que, temendo contestações futuras, farão a votação de forma presencial. Para evitar aglomerações, no entanto, os partidos apostam em alternativas como a distribuição de urnas pela cidade e até mesmo um drive-thru, para que os filiados possam votar sem sair do carro.
Com o primeiro turno das eleições marcado para 15 de novembro, as convenções precisam acontecer entre hoje e 16 de setembro. Além de tornar oficiais as candidaturas, elas servem para selar coligações. Formalmente, tudo seria decidido por meio do voto dos filiados, no momento da convenção, mas, na prática, os partidos costumam chegar com a resolução já tomada no ato, e os delegados apenas a referendam.
“No Brasil, as convenções são celebrações de acordos previamente fechados nos bastidores”, diz o cientista político Humberto Dantas, pesquisador da Fundação Getulio Vargas e diretor de Educação do Centro de Liderança Pública (CLP). “É parecido com um casamento: você sabe que as pessoas vão dizer ‘sim’. Você vai pela festa.”
Esse caráter festivo das convenções permitia medir a temperatura da largada das campanhas. A quantidade e a animação de militantes presentes, o luxo ou a simplicidade do espaço alugado e da decoração, a reação da plateia ao tom dos discursos das lideranças, por exemplo, são elementos presentes exclusivamente nas convenções presenciais.
Partidos como o PSDB da capital paulista vão optar por um modelo de convenção misto. A votação será presencial – ainda que adaptada às regras de distanciamento social – e, no mesmo dia, 12 de setembro, haverá uma live com discursos do prefeito Bruno Covas, que tentará a reeleição, do governador João Doria e de outros líderes tucanos.
O PDT na cidade de São Paulo, que vai se coligar ao PSB de Márcio França, também aposta no digital. A diferença é que esse partido fará até mesmo a votação dos filiados à distância, em um software específico para essa função e adaptado às exigências da Justiça Eleitoral. A convenção no PDT na capital paulista acontece também no dia 12 e terá plenária e ato virtual via Zoom. Participam Ciro Gomes, o presidente nacional do PDT Carlos Lupi e o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.
Pré-candidato a vice de França e presidente municipal do PDT, Antonio Neto reconhece a falta que fará a “energia” da convenção presencial, mas acredita que, de forma virtual, será possível tornar o ato acessível a um público maior. “Desde abril viemos fazendo lives para falar de política para o público e para debater assuntos do diretório, internamente”, diz Neto. “Ciro vem usando muito as transmissões via internet e esperamos trazer para a live da convenção gente de todo o Brasil, para apoiar o projeto do partido em São Paulo.”
O cientista político Humberto Dantas antevê que a era das lives vai trazer desafios aos políticos tradicionais. “O político habilidoso no palanque mede o calor do ambiente, direciona a fala de acordo com o semblante das pessoas que o escutam. O aplauso serve como mediação da fala dele”, diz Dantas. “Na live, não há nada disso.”
Para além dos discursos, a formalidade da votação também impõe dificuldades de acordo com o tamanho do partido. O software de votação adotado pelo PDT, por exemplo, mostra o resultado da votação em cerca de dez minutos após o fechamento das urnas. Votam cerca de 160 pessoas na capital paulista.
O Novo na cidade avaliou usar também um sistema para votação virtual, mas, depois de um teste com a plataforma, desistiu. Segundo o presidente municipal do partido em São Paulo, Julio Rodrigues, o número de filiados votantes, entre 300 e 500, tornaria o processo online instável e demorado. O principal entrave, diz Rodrigues é a validação de cada um dos delegados, que precisa estar com a mensalidade em dia para ter direito ao voto.
A saída encontrada foi alugar um local amplo e aberto, o estacionamento da Câmara Municipal de São Paulo, no centro da cidade, e instalar um sistema de drive-thru. O filiado vai, de carro, percorrer um circuito formado por uma sequência de baias, em que vai assinar a lista de presença, preencher a cédula de papel da votação e depositar a cédula na urna. Para quem for a pé ou de transporte público haverá também um local para votação, no mesmo estacionamento, com sinalizações no chão indicando que as pessoas mantenham distância entre si e evitem aglomeração. O partido vai oferecer álcool em gel, máscaras e pede que cada um leve sua própria caneta de casa, para evitar o compartilhamento do objeto. A convenção do Novo na capital acontece dia 5.
Outra alternativa para evitar aglomerações será, ao invés de ter um local de votação na cidade, ter dez postos, como fará o PSDB paulistano. Os 120 convencionais do PCdoB vão contar, no dia 5, com um horário estendido de votação, para que os votos se distribuam ao longo do dia.
Apesar da autorização do Tribunal Superior de Justiça (TSE) para as convenções virtuais, os partidos têm de garantir uma série de validações de quem vota e que garantiram igualdade de condições para os pré-candidatos. Preocupado com a possível judicialização nesse processo de definição das candidaturas, o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), determinou que, onde houver disputa entre mais de um pré-candidato pela cabeça de chapa, tem de haver convenção presencial.
O PSD, que lançará Andrea Matarazzo, na capital paulista, também optou por um evento presencial, hoje à tarde. Restringiu, no entanto, a participação a dirigentes e convencionais. O mesmo fará o PSL, que deve lançar esta segunda a deputada Joice Hasselmann. Depois, fazem suas convenções no dia 5 PCdoB, Novo, PV e Psol; no dia 12, PSDB, PT e Patriota; no dia 14, PTB; no dia 15, Rede; e no último dia, 16 de setembro, o Republicanos.