20 policiais alemães são suspensos por apologia ao nazismo

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: LAETITIA VANCON / NYT

Uma polícia estadual da Alemanha suspendeu nesta quarta-feira 29 policiais suspeitos de compartilhar imagens de Hitler e propaganda neonazista violenta em pelo menos cinco grupos de bate-papo online, aumentando as preocupações sobre a infiltração de extrema direita na polícia e nas Forças Armadas do país.

Herbert Reul, o ministro do Interior do estado da Renânia do Norte-Vestfália, onde as conversas foram descobertas, chamou-as de “uma desgraça”. Em uma entrevista coletiva nesta quarta-feira, ele descreveu as imagens que foram compartilhadas entre os agentes como “propaganda extremista de extrema direita” e “o mais feio e desprezível ataque neonazista contra imigrantes”.

As 126 imagens compartilhadas incluem suásticas, uma imagem manipulada de um refugiado em uma câmara de gás e tiros contra um homem negro, disseram as autoridades.

O número de casos de extremistas de extrema direita na polícia e no Exército alemão, alguns dos quais acumulavam armas e mantinham listas de inimigos, se multiplicou nos últimos anos. Na segunda-feira, as autoridades invadiram a casa de um soldado de 40 anos em conexão com uma investigação de um suposto complô terrorista de extrema direita.

Por anos, políticos e chefes de segurança alemães rejeitaram a noção de infiltração da extrema direita nos serviços de segurança, falando apenas de “casos individuais”. A ideia de redes era rotineiramente descartada e os superiores daqueles expostos como extremistas, protegidos.

Mas, neste verão no Hemisfério Norte, o governo dissolveu uma companhia inteira das forças especiais alemãs porque ela foi considerada infestada por extremistas de extrema direita. O problema se tornou tão sério que as autoridades parecem estar lutando para controlá-lo.

Na manhã desta quarta, os investigadores invadiram as casas e os locais de trabalho de 14 dos 29 policiais suspensos em pelo menos cinco vilarejos e cidades. O oficial que os comandava estava entre os membros dos grupos de bate-papo.

Reul, o ministro do Interior do estado, disse que antes esperava que tais episódios fossem exceções, mas que hoje já não pode mais falar apenas de casos individuais.

Vários departamentos de polícia da Alemanha se viram sob holofotes ligados a ações da extrema direita. No estado de Hesse, os investigadores chegaram a encontrar nos computadores da polícia informações usadas em uma série de ameaças de morte enviadas nos últimos dois anos a políticos de esquerda e alemães proeminentes de origem estrangeira.

O ministro do Interior de Hesse disse publicamente estar preocupado com uma “rede” de extrema direita em seu serviço policial. E, em Munique, as autoridades identificaram outro grupo de bate-papo de policiais compartilhando postagens antissemitas.

A polícia descobriu as conversas na Renânia do Norte-Vestfália quando o celular particular de um policial de 32 anos foi confiscado como parte de uma investigação para saber se ele havia passado informações confidenciais sobre uma quadrilha do crime organizado para um jornalista.

O primeiro grupo foi criado já em 2012, e o maior deles data de 2015, quando centenas de milhares de refugiados chegaram à Alemanha, disse Reul. A postagem mais recente no celular foi enviada em 27 de agosto.

Dos 29 membros dos grupos de bate-papo, 25 trabalhavam em delegacias supervisionadas pela mesma sede da polícia distrital na cidade de Essen, no oeste do país. Acredita-se que 11 tenham compartilhado ativamente as imagens, enquanto outros 18 as receberam e não deram nenhum alarme.

Políticos e oficiais da polícia reagiram às notícias com consternação e medo.

— A luta contra o extremismo de extrema direita está no DNA da polícia — disse Michael Maatz, vice-chefe da seção estadual do sindicato policial GdP. — O fato de ainda haver policiais que compartilham conteúdo radical, de extrema direita e xenófobo em grupos de bate-papo é insuportável.

Christos Katzidis, especialista em segurança interna da União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler Angela Merkel, disse que estava “profundamente abalado”.

— Ter aqueles que deveriam proteger e defender nossos valores chutando-os para o lado é escandaloso — disse ele.

Sebastian Hartmann, presidente do Partido Social -Democrata, que governa com o partido de Merkel em Berlim, exigiu “uma investigação implacável do caso e tolerância zero para os inimigos de nossa sociedade democrática”.

Reul, o ministro do Interior da Renânia do Norte-Vestfália, disse que planejava abrir um inquérito especial, e afirmou que queria nomear um enviado especial para “tendências extremistas de extrema direita” na polícia estadual para descobrir maneiras de detectar o extremismo e a radicalização o quanto antes.

Ele também insistiu em que a maioria dos 50 mil agentes do estado é de “pessoas totalmente decentes e democratas”. Mas, depois que os investigadores confiscaram mais telefones e computadores em buscas nesta quarta-feira, ele alertou que provavelmente mais crimes seriam descobertos.

O Globo