Apropriação do mérito pelo auxílio por Bolsonaro mobiliza Congresso
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Parlamentares de diferentes partidos avaliam que a Câmara dos Deputados não divulga suas ações da forma como deveria e que, por isso, foi o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quem faturou politicamente com o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, apesar de, originalmente, o governo ter defendido um valor mais baixo. Para tentar melhorar a comunicação, a Câmara vai reestruturar toda a sua grade de televisão e rádio a partir do ano que vem.
— O governo queria dar R$ 200 de auxílio emergencial. Foi a Câmara que batalhou muito para que o valor fosse aumentado. Mas, depois que o dinheiro caiu no bolso das pessoas, foi a popularidade do Bolsonaro que cresceu, ao passo que a do Congresso diminuiu. Acho que a Câmara não se comunica com clareza. Insisti para que o (presidente da Casa) Rodrigo Maia (DEM) fizesse um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV sobre a conquista do auxílio emergencial, mas ele não quis — disse a líder do PCdoB, Perpétua Almeida (AC).
Em junho, Maia passou a estrutura da comunicação da Casa para a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), com formação em Jornalismo. Ela afirma que prepara licitações para alterar toda a grade da TV Câmara e da Rádio Câmara, à exceção das transmissões das sessões plenárias ao vivo.
— Todo mundo quer ser pai de filho bonito. O auxílio emergencial era um filho bonito, e o governo chamou de seu. A Câmara não alardeou que o filho era nosso. Então acabou ficando um filho de só um cônjuge. Tem um ditado que diz: “Galinha boa cacareja quando bota ovo”. O governo cacarejou em cima do ovo do outro — disse a deputada.
Segundo Joice, a partir de 2021 a TV Câmara dará mais espaço para comentaristas analisarem e explicarem projetos discutidos pela Casa. Assim como Perpétua, ela avalia que Maia errou ao não usar a cadeia de rádio e TV para divulgar o auxílio emergencial, argumentando que o deputado opta pela discrição. Procurado, Maia não comentou.
À frente da Secretaria Digital da Câmara, responsável pela divulgação nas redes sociais, Orlando Silva (PCdoB-SP) reconhece que a capacidade de comunicação da Câmara é “bem pequena”, mas diz que o número de seguidores tem aumentado nas redes sociais.
— A Casa não tem uma estrutura profissional de comunicação como o governo federal tem, com agência de publicidade e verba para propaganda. Bolsonaro tem uma estratégia de microtarget (propaganda específica direcionada para cada segmento), uma engenharia que utiliza desde a campanha eleitoral, e conta com militância política. A Câmara não tem militância para ajudar a divulgar. O Rodrigo Maia tomou a decisão de ter um orçamento austero, até por conta da dificuldade provocada pela pandemia, o que faz sentido, mas isso também limita o poder de comunicação da Casa — afirma o parlamentar do PCdoB.
Segundo Orlando Silva, a disputa pela paternidade do auxílio emergencial era uma batalha difícil de ser vencida pela Câmara.
— Por mais que o parlamento tenha lutado por um valor maior para a população, enquanto o Planalto resistia, a execução do pagamento se dá por meio do governo federal, que é quem efetivamente efetua os depósitos nas contas das pessoas — avaliou Orlando Silva.