Bolsonaro não participa de inaugurações com governadores adversários
Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Governadores considerados adversários políticos têm sido ignorados por Jair Bolsonaro em suas viagens pelo país. No giro atual iniciado no dia 30 de julho, após se recuperar do novo coronavírus, o presidente esteve em 12 estados e deixou de comunicar oficialmente a sua presença para quatro chefes de executivo numa ruptura de padrão de relação institucional que vem sendo mantido desde a redemocratização.
Os rejeitados por Bolsonaro foram João Doria (PSDB), de São Paulo; Wilson Witzel (PSC), do Rio, que ainda estava cargo antes de ser afastado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ); e os petistas Rui Costa, da Bahia, e Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte.
— Ele não me convidou, nem avisou que estava vindo oficialmente. Eu soube pela imprensa. Nem ele nem os ministros, a maioria deles, quando vêm a Bahia sequer avisam. Alguns poucos (ministros) têm a delicadeza de avisar — conta o governador da Bahia, sobre a viagem de Bolsonaro a Campo Alegre de Lourdes no dia 30 de julho.
Na cidade, localizada no sertão nordestino, Bolsonaro entregou a segunda etapa do sistema de abastecimento de água local. A primeira havia sido inaugurada por Rui Costa em 2018. Presidente do Consórcio do Nordeste, o governador da Bahia costuma fazer críticas ao presidente.
A sua colega de partido Fátima Bezerra também não recebeu qualquer aviso ou convite, segundo sua assessoria, para a visita que o presidente fez às cidades Mossoró e Ipanguaçu, no dia 21 de agosto. O Ministério do Desenvolvimento Regional, que é comandado pelo potiguar Rogério Marinho, chegou a dar avisos para secretarias estaduais que precisaram dar apoios aos eventos de Bolsonaro, a entrega de um conjunto residencial e de um poço.
Desde julho, Bolsonaro esteve três vezes no estado de São Paulo, a última delas ontem quando visitou a região do Vale do Ribeira onde anunciou obras, e em nenhuma delas o governo paulista foi comunicado. Desde o ano passado, Doria protagoniza embates públicos com o presidente.
Assim como o governador paulista, Wilson Witzel também tem uma rivalidade acirrada com Bolsonaro. O GLOBO apurou que governador do Rio era avisado das visitas presenciais ao estado no começo do ano passado, quando ainda estava de pé a sua aliança com o presidente. No dia 14 de agosto, Bolsonaro chegou a visitar o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), unidade sob comando do governo estadual, sem comunicar Witzel.
No passado, divergências políticas, não impediram os então presidente Fernando Collor e governador do Rio, Leonel Brizola, de participarem de inauguração de obra pública juntos. Mesmo no auge da rivalidade entre PSDB e PT, o Fernando Henrique Cardoso esteve com o governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra. O mesmo se deu com Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra, que era governador de São Paulo.
— O Bolsonaro transformou o federalismo em campo de batalha para sua reeleição e a eliminação de adversários. Nenhum presidente fez isso no Brasil. Isso enfraquece a democracia brasileira e prejudica as políticas públicas, pois elas dependem da articulação entre os níveis de governo. O resultado disso é o desastre em políticas como Educação e Saúde — analisa o cientista político Fernando Abrucio, professor da FGV.
No giro atual de viagens de Bolsonaro, foram avisados todos os governadores mais alinhados com o presidente, como Ratinho Jr (PSD), do Paraná, Romeu Zema (Novo), de Minas, e Ronado Caiado (DEM), de Goiás, que havia rompido com Bolsonaro, se reaproximou em junho. Na semana passada, os dois chegaram juntos à inauguração de uma usina de energia solar em Caldas Novas.
Apesar dos ataques ao PT e da falta de aviso de viagens a dois governadores do partido, a Presidência comunicou o governo do Piauí, comandado pelo petista Wellington Dias, de que Bolsonaro pousaria no aeroporto de São Raimundo Nonato no dia 30 de julho para ir à inauguração na cidade baiana de Campo Alegre de Lourdes e aproveitaria para fazer uma visita pessoal ao Parque Nacional da Serra da Capivara, que fica próximo. Procurado para comentar a falta de convite aos governadores, o Palácio do Planalto não respondeu.