Economia já penalizava pobres antes da pandemia
Foto: Reprodução/Oxfam Brasil
A notícia que o IBGE trouxe nesta quinta-feira mostra o tamanho do retrocesso social que o país viveu nos últimos anos, antes mesmo de a pandemia assombrar o mundo. Mais de 1 milhão de famílias passaram a conviver com a fome, faltando comida inclusive para as crianças, desde 2013. Essa é a situação mais grave, mas a incerteza se haverá alimento no prato angustiou quase 40% das famílias no país.
Não víamos isso desde antes de 2004. Parecia que não seria possível voltar aos patamares de atraso social do início da década passada. A pobreza no Brasil caiu 72,7% de 1990 a 2015, com a proporção da população vulnerável despencando de 36,6% para 10%.
Mas a recessão de 2014 a 2016, que tirou quase 10% da renda per capita brasileira, atingiu os mais pobres, aumentando o que os especialistas chamam de intensidade da pobreza. Os mais pobres ficaram ainda mais pobres. Vieram dois anos de economia se recuperando. Mas não para os que estão na base da pirâmide de renda.
Segundo cálculos do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, de 2014 a 2018, a renda do 1% mais rico subiu 9,4% e a do 5% mais pobres caiu 39,3%. A pouca reação econômica após a recessão foi desigual.
A pandemia chegou no Brasil quando o país já está vivendo a sua própria tragédia social.