Marta Suplicy pode ir parar no PSDB

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Foto: Pedro Kirilos / Agência O Globo

Dois anos após anunciar a sua saída da política, a ex-prefeita e ex-senadora Marta Suplicy, de 75 anos, promoveu mais uma reviravolta em sua trajetória ao firmar apoio na eleição de São Paulo a uma chapa encabeçada pelo PSDB, partido que fez oposição dura à sua gestão na cidade entre 2001 e 2004. Para estar ao lado de Bruno Covas na disputa pela reeleição, Marta deve anunciar mais uma saída de partido, desta vez do Solidariedade, que decidiu por uma aliança com Márcio França (PSB).

Marta demorou quase um ano para definir a sua posição na eleição paulistana. A ideia inicial era ocupar o posto de vice numa chapa encabeçada pelo petista Fernando Haddad. Na tentativa de viabilizar uma frente ampla na eleição paulistana, o marido de Marta, Márcio Toledo, que comanda as articulações políticas da ex-senadora, criou um grupo de WhatsApp com esse nome. Juntou ali petistas, como o ex-tesoureiro Delúbio Soares, integrantes do MDB, como o ex-senador Romero Jucá, nomes do PCdoB, PSB e PSDB, além de sindicalistas e advogados.

Num movimento de reaproximação com o PT, Marta enviou carta ao ex-presidente Lula quando o líder petista ainda estava preso em Curitiba se solidarizando com a suas queixas de que a sua condenação era injusta. Ao sair da cadeia, Lula retribuiu e chegou a dizer que Marta foi a melhor prefeita que São Paulo já teve.

A possibilidade da ex-prefeita voltar ao PT chegou a ser cogitada por Lula, mas as mágoas provocadas na época de sua saída fecharam as portas para um retorno. Ao deixar o partido em 2015, ela disse que não tinha como conviver com os escândalos de corrupção. E votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Mesmo com as portas petistas fechadas, Marta manteve a esperança de ser vice de Haddad por uma outra legenda. Apostava que Lula obrigaria Haddad a se candidatar. Simultaneamente, eram mantidas conversas com Márcio França. Com essa expectativa, a ex-prefeita, que em 2018 havia anunciado a sua aposentadoria com o argumento de que a relação de grande parte das legendas com o Executivo se dava na base do “toma lá dá cá numa afronta a todos os padrões de dignidade e honradez”, se filiou ao Solidariedade, legenda comandada pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, condenado recentemente no STF por desvio de verbas do BNDES.

Em julho, Marta iniciou gestos de aproximação com Bruno Covas ao postar nas redes sociais um vídeo em que relembrava o apoio que deu ao avô do prefeito, Mário Covas, no segundo turno da eleição para o governo do estado de 1998 e o gesto de retribuição do tucano ao apoiá-la no segundo turno da disputa municipal de 2000. Covas entendeu o recado e citou o seu nome em inaugurações de obras. A ex-petista passou a alimentar a expectativa de ser a vice .

Nessa época, Marta convidou o ex-presidente Fernando Henrique para uma live em que ambos exaltaram a necessidade de uma frente ampla contra Bolsonaro. Mas Covas rejeitou a ex-petista como vice para não afastar o eleitor conservador. Com Haddad firme na sua posição de ficar fora da eleição e Márcio França fazendo gestos de aproximação com Bolsonaro, Marta não tinha alternativas. Diante do cenário, decidiu que o único caminho coerente com as ideias que vinha defendendo seria relevar as mágoas do passado e se juntar ao PSDB.

Quando Marta era prefeita, os tucanos a apelidaram de “Martaxa”, devido à criação das taxas do lixo e de iluminação pública. Também promoveram manifestação de rua contra ela. Os episódios contribuíram para o desgaste que impediu sua reeleição.

Vencidas suas próprias mágoas, Marta teria que convencer Paulinho, que dá as cartas no Solidariedade, da adesão ao projeto de reeleição do prefeito paulistano. Mas o cacique disse que o partido se sentiu desprestigiado por ter sido preterido na escolha do vice e fecharia com Márcio França. No mesmo dia em que seu marido foi comunicado dessa decisão, Marta jantou na casa de Bruno Covas, indicando que semana que vem deve formalizar o seu desligamento da sigla. Ontem, Paulinho saiu do grupo de WhatsApp administrado pelo marido de Marta.

Na campanha, Marta quer que Covas levante a bandeira contra Bolsonaro, mas a ideia é vista com ressalvas dentro do PSDB que prefere focar a disputa no âmbito local.

O Globo