Na ONU, Bolsonaro divide ditaduras entre as do bem e as do mal
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Jair Bolsonaro, em seu discurso nas Nações Unidas, adotou uma postura negacionista em relação à pandemia da Covid19 e às queimadas na Amazônia. Obviamente, já era esperado. Mas alguns outros pontos chamaram também a atenção:
1) “O Brasil é um país cristão e conservador”
No fim de seu discurso, Bolsonaro disse que o Brasil é um país cristão e conservador. Logo, judeus, muçulmanos, seguidores de religiões de matriz africanas e ateus seriam menos brasileiros? E pessoas liberais, no sentido de progressista da palavra? Vale lembrar que o próprio presidente do Senado brasileiro tem origem judaica. E, pela Constituição, o Brasil é um Estado laico. De uma certa forma, dizer “cristão e conservador” lembrou o discurso de radicais como o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que fazia questão de descrever o Irã como “islâmico”.
2) Ditaduras do bem e ditaduras do mal
Bolsonaro descreveu a Venezuela como ditadura. Concordo com ele neste sentido. Mas, mais adiante em seu discurso, celebrou a amizade do Brasil com os Emirados Árabes e Bahrein, que também são governados por ditaduras. Qual a diferença? Há ditaduras do bem e do mal?
3) Acordos de paz?
Bolsonaro adotou a propaganda de Trump ao chamar de “acordos de paz” os acordos de estabelecimento de relações diplomáticas entre Israel e as ditaduras dos Emirados e Bahrein. Conforme já escrevi aqui algumas vezes, nunca houve guerra entre os israelenses e estes países. Não são nações inimigas e já mantinham diálogo nas áreas de segurança e inteligência, formando, junto com a Arábia Saudita, uma aliança contra o Irã.
4) Conselho de Segurança
Bolsonaro não defendeu uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, que é há décadas um tema prioritário da política externa brasileira. Ao mesmo tempo, fez uma defesa da reforma a Organização Mundial do Comércio.