Tatto quer recriar polarização PT-PSDB em SP

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Foto: Reprodução/ Valor Econômico

Com 2% das intenções de voto na início da campanha eleitoral, o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Jilmar Tatto, diz ter como missão resgatar os simpatizantes petistas que hoje apoiam o deputado Celso Russomanno (Republicanos), candidato ligado ao presidente Jair Bolsonaro. Russomanno lidera as intenções de voto, com 29%, segundo o Datafolha, e conta com um terço das eleitores que têm preferência pelo PT na cidade. Tatto tem 6% dos que preferem o partido.

O petista vai colar sua imagem à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos programas de rádio e televisão e nas propagandas veiculadas pela internet para se mostrar como o candidato do ex-presidente, e diz que seu principal adversário será o “candidato do Bolsonaro”. Tatto aposta na reedição da polarização entre PT e Bolsonaro para alavancar a candidatura.

O candidato contratou a mesma equipe de marketing da candidatura presidencial de Fernando Haddad (PT) em 2018, e chamou nomes ligados a Lula, como o ex-ministro Gilberto Carvalho e o ex-presidente da CUT Vagner Freitas para atuarem no núcleo político da campanha.

Os desafios do petista não serão pequenos. O PT viu sua votação cair à metade ao longo dos últimos 20 anos na capital. Em 2000, o partido recebeu 38,13% dos votos no primeiro turno, maior percentual da legenda na cidade. Em 2016, caiu para 16,7% e o então prefeito Fernando Haddad perdeu no primeiro turno. Tatto enfrenta resistência de filiados e lideranças comunitárias, e não conseguiu atrair nenhum aliado para a chapa. A vice, que a princípio seria de uma mulher negra, ficou com o deputado Carlos Zarattini, que não apoiou Tatto na prévia. E o petista é desconhecido por 64% dos eleitores, segundo o Datafolha.

Tatto, no entanto, aposta na popularidade de Lula, na capilaridade do partido na cidade e em marcas de gestões petistas como o Bilhete Único, Centros Educacionais Unificados (CEUs), ciclovias e programas de distribuição de renda e alimentos para viabilizar-se. O petista tenta se mostrar como o verdadeiro “candidato da periferia” e conquistar não só apoiadores de Russomanno, mas também os da chapa Guilherme Boulos/ Luiza Erundina, do Psol.

Ontem, Tatto começou oficialmente a campanha na zona leste, região mais populosa da capital, e fez carreatas. “Vamos recuperar o eleitorado do PT que está com Russomanno e mostrar quem é o candidato do PT”, diz. “Russomanno é conhecido, foi candidato várias vezes, tem programa de televisão. O eleitor não tem informação sobre quem é o candidato do PT e é natural que isso aconteça”, diz, sobre o apoio de simpatizantes petistas ao adversário.

Lula estampará bandeiras, cartazes e santinhos e será exibido com frequência na propaganda eleitoral, mas a presença do ex-presidente em atos de campanha deve ser evitada por conta da pandemia. Na TV e no rádio, Tatto terá o terceiro maior tempo no horário eleitoral, com cerca de um minuto. “Quanto mais o eleitor souber que eu sou o candidato do PT, mais vou crescer nas pesquisas”, diz. “O eleitor vai decidir na última hora, na última semana. E é quando o PT cresce.”

O PT vai vincular Russomanno a problemas do governo Bolsonaro, como o desemprego, a queda na renda, a perda de direitos e a má gestão da saúde durante a pandemia. “A população vai perceber que era feliz com o PT e não sabia”, diz. O partido deve também associar o prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), ao ex-prefeito e governador João Doria (PSDB). “Doria abandonou a cidade e só fez maldade, como tirar o Leve Leite, diminuir a integração do Bilhete Único de quatro para duas horas, tirar o passe livre dos estudantes, e quis colocar ‘ração’, a farinata, para alunos. Vamos grudá-lo a Covas, que é um prefeito apático”.

Mesmo com os ataques a Covas, que está em segundo lugar nas pesquisas, com 20%, o petista não aposta na polarização PT x PSDB de eleições anteriores, mas sim no embate com Russomanno. “Vai ser Lula contra Bolsonaro”, afirma.

O apoio de Bolsonaro, Doria e Lula, no entanto, pode ter um efeito negativo. O presidente afasta mais eleitores do que atrai na disputa paulistana, segundo o Datafolha: 64% não votariam de jeito nenhum em alguém apoiado por Bolsonaro, mas 11% com certeza optariam por essa candidatura. No caso de Doria, 59% não votariam em um nome apoiado por ele, mas 8% certamente escolheriam o indicado pelo tucano. Em relação a Lula, 57% com certeza se afastariam do nome apoiado pelo petista, mas 20% certamente votariam.

O candidato evita desgastes com Guilherme Boulos (Psol), que tem 9% das intenções de voto e mira no eleitorado petista. Tatto compara a votação que Boulos teve na cidade na disputa presidencial de 2018, com 76 mil votos, enquanto ele teve 771 mil votos para o Senado em 2018. O petista diz que a máquina partidária faz a diferença nas eleições e afirma que o apoio recebido pelo candidato do Psol de artistas e intelectuais repete o movimento que aconteceu na eleição presidencial passada contra Haddad.

O candidato é contra a terceirização, ampliada na gestão Covas. Tatto promete rever os contratos com Organizações Sociais na saúde e afirma que reverterá a terceirização da gestão dos CEUs. Na educação, é contra expandir a contratação de creches privadas e defende a construção de creches pela prefeitura, com concursos para contratar funcionários. Tatto diz que vai zerar o déficit de vagas em creches no primeiro ano da gestão. Na saúde, propõe mutirões para reduzir a fila de exames e consultas, que aumentou durante a pandemia.

Ex-secretário de Transportes na gestão Fernando Haddad (2013-2016), Tatto diz que não aumentará a passagem de ônibus e reduzirá o valor de R$ 4,4 para R$ 2 aos domingos e durante a madrugada. Promete implementar o passe livre para desempregados e estudantes, manter o subsídio às empresas de transporte, que ultrapassa R$ 3 bilhões.

Tatto já foi deputado federal e secretário das gestões Haddad e Marta Suplicy (2001-2004). Nas três disputas eleitorais que participou, declarou bens quase dez vezes o valor declarado neste ano. Em 2006, registrou patrimônio de R$ 1,64 milhão. Dois anos depois, de R$ 1,87 milhão. Em 2018, quando concorreu ao Senado, disse ter R$ 1,37 milhão e nesta eleição, R$ 126,1 mil. Tatto desconversa, diz que fez uma “holding” e recomenda a conferência do Imposto de Renda dele – apesar de não ser uma informação inacessível ao eleitor, por não ser pública. A assessoria de Tatti diz que a redução patrimonial se deu porque ele partilhou bens com os filhos, e desde 2019 os filhos “passaram a declarar seus bens separadamente, impactando no valor patrimonial de Tatto”.

Valor Econômico