Bolsonaro monta “tropa de choque” no Congresso

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Foto: Reprodução

A demissão de um dos vice-líderes do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), expôs o pragmatismo do presidente Jair Bolsonaro e reacendeu a curiosidade sobre o que faz um político alçado a esse cargo. Visto como uma espécie de despachante do Palácio do Planalto no Congresso, o vice-líder ajuda na articulação política com as bancadas, tanto na Câmara como no Senado. Em geral, é um representante do baixo clero que ganha prestígio entre seus pares.

Bolsonaro promoveu recentemente várias trocas de integrantes desse posto na Câmara, para agradar ao Centrão – grupo que dá as cartas do poder – e obter apoio nas votações. A escolha dos líderes e dos vice-líderes é sempre do presidente da República e os nomes são publicados no Diário Oficial da União. Ali estão os escudeiros do governo no Congresso.

Desde setembro, o líder do governo na Câmara é o deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), um expoente do Centrão, comandado por Arthur Lira (Progressistas-AL). Em seu sexto mandato, Barros foi líder e vice-líder de todos os governos desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso e é conhecido por ser hábil negociador político e especialista em orçamento. Foi ministro da Saúde entre 2016 e 2018 no governo de Michel Temer. Sob Bolsonaro, Barros substituiu o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), que vivia às turras com o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos.

Além disso, ainda em setembro, Bolsonaro fez mais um movimento: indicou dez deputados para exercer a função de vice-líder do governo na Câmara e solicitou a dispensa de oito parlamentares da função, entre eles Carla Zambelli (PSL-SP). Em julho, o presidente já havia substituído Bia Kicis (PSL-DF). A mudança foi feita um dia depois de Kicis votar contra a renovação do Fundo de Desenvolvimento da Educação (Fundeb). Tanto Carla Zambelli quanto Bia Kicis são da ala do chamado “bolsonarismo raiz”, grupo que acompanha Bolsonaro desde a campanha eleitoral de 2018. “Continuamos sendo soldados do presidente Jair Bolsonaro”, disse Carla Zambelli à época.

Na prática, os líderes do governo são os que fazem as maiores negociações e os vice-líderes ficam encarregados do “varejo” da política, levando e trazendo os pedidos das bancadas para cargos e liberação de emendas parlamentares, por exemplo. É esse toma lá, dá cá que alimenta muitas votações no Congresso.

Flagrado com dinheiro na cueca, Chico Rodrigues, por exemplo, é o segundo a deixar o cargo no Senado desde o início da gestão Bolsonaro. Em março de 2019, o presidente nomeou quatro senadores para sua tropa de choque. Além de Rodrigues, amigo de mais de duas décadas, foram escolhidos Eduardo Gomes (MDB-TO), Elmano Férrer (Progressistas-PI) – na ocasião filiado ao Podemos –, e Izalci Lucas (PSDB-DF).

No mês passado, Izalci deixou a função após votar contra governo no veto ao reajuste salarial para servidores públicos. Nenhum parlamentar foi nomeado para o seu lugar.

A liderança do governo na Casa é comandada pelo senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que também foi líder sob Temer e ministro da ex-presidente Dilma Rousseff. Agora com a demissão de Rodrigues e o segundo desfalque, Bolsonaro contará com dois vice-líderes no Senado: Eduardo Gomes, que acumula a função com a liderança do governo no Congresso, e Elmano Férrer. Ainda não há decisão sobre quem substituirá Rodrigues.

Apesar de Bolsonaro tentar se desvincular do senador após a Polícia Federal flagrá-lo com R$ 30 mil na cueca, ele é tido como um político da extrema confiança do Planalto. Além de empregar no gabinete Leo Índio, primo dos filhos do presidente, no ano passado, Rodrigues foi escolhido para ser o relator da indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada brasileira em Washington na Comissão de Relações Exteriores do Senado. O colegiado é responsável por sabatinar os titulares das representações oficiais do Brasil no exterior. Sem votos suficientes, Bolsonaro acabou desistindo de encaminhar o nome de Eduardo, seu filho “zero três”.

Mesmo desfrutando da amizade com a família Bolsonaro, Rodrigues também chegou a criticar o governo em algumas ocasiões. Em janeiro, o senador se posicionou contra o subsídio para igrejas no pagamento da energia elétrica negociado entre Bolsonaro e a bancada evangélica. Além disso, em junho, foi um dos aliados de Bolsonaro a pedir publicamente a demissão do então ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Estadão