Bolsonaro trai mais pessoas; agora, no atacado

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Fátima Meira / Futura Press

Os adjetivos “petista” e “traidor” explodiam nas redes ladeados pelo nome Bolsonaro quando o presidente da República deixou o Palácio da Alvorada em direção ao setor de mansões do Lago Norte, área nobre de Brasília, no sábado 3, onde participaria de um amigável convescote na casa do ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Dias Toffoli. A razão da fúria das redes tinha nome e sobrenome: Kassio Nunes Marques, o desembargador indicado por Jair Bolsonaro para ocupar a vaga do ministro Celso de Mello na Corte, após sua aposentadoria, anunciada para o dia 13. Os apoiadores do presidente enxergam em Nunes a imagem de um “aliado da esquerda e do centrão”, além de ser persona benquista por inimigos seculares da base bolsonarista, como o próprio Dias Toffoli e seu colega de toga Gilmar Mendes.

Foi posta uma mesa especial com um cardápio elaborado por um chef contratado especialmente para o evento, que começou no almoço e se arrastou durante todo o sábado. De casquinha de siri a filé-mignon grelhado ao ponto, o menu era um mosaico de combinações tão diversas quanto os frequentadores que ali estavam. Bolsonaro foi convidado de última hora, no fim da tarde, assim como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Já estavam por lá o próprio Kassio Nunes Marques, o ex-ministro da Defesa Raul Jungmann e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio. O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e o procurador-geral, Augusto Aras, deram uma “passada” antes da chegada do presidente.

Ao chegar, Bolsonaro sentou-se a uma mesa no jardim e pediu para que fosse ligada a televisão para que ele pudesse assistir ao jogo do Palmeiras contra o Ceará. Estava de bom humor, fazendo piada com os convidados. Mas passou a maior parte do tempo em uma agenda pessoal: ora assistindo atentamente ao jogo, ora tendo conversas privadas com alguns presentes, como Dias Toffoli e Alcolumbre. A tarde virou noite e, por volta das 21 horas, uma pilha de caixas de pizza chegou. Em dado momento, Bolsonaro engatou numa conversa descontraída com Múcio, indicado por Lula ao TCU e figura historicamente ligada ao PT, ofereceu-lhe uma embaixada, já que ele se aposentará neste ano da Corte de contas. O ministro educadamente recusou a oferta.

Não demorou para que imagens da reunião fossem captadas pela imprensa e ganhassem as redes sociais — um abraço entre Bolsonaro e Toffoli, em especial, feriu de morte a militância mais aguerrida do presidente, para quem o ministro sintetiza a imagem do PT e da Corte, ambos detestados pelo bolsonarismo.

Enquanto Bolsonaro confraternizava com seus novos amigos, as redes não perdoavam a falha. Em outros tempos, seu filho Carlos entraria em campo para colocar ainda mais lenha na fogueira, como fez em tantas ocasiões para fritar aliados que julgava serem incompatíveis com os anseios da milícia virtual de seu pai. Mas, curiosamente, desta vez, Carlos agiu como bombeiro. Foi ao Twitter insinuar que quem estava acusando Bolsonaro de traição não era apoiador de verdade, e sim tucano travestido. Com a subida de tom das críticas ao presidente por seus apoiadores, criou-se uma nova teoria da conspiração no bolsonarismo: a de que quem critica Bolsonaro é partidário de Sergio Moro ou eleitor do PSDB infiltrado na militância.

Época