DEM tenta recuperar protagonismo na direita
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O DEM vive o seu melhor momento político após ter amargado mais de uma década de desidratação e desgaste, sobretudo na era de governos petistas. Nas eleições de 2020, o partido lançou nove candidaturas próprias em capitais, sendo quatro delas altamente competitivas e líderes nas pesquisas até o momento – Salvador, Curitiba, Florianópolis e Rio de Janeiro -, além de outras três com boas chances de chegar ao segundo turno.
Em Curitiba e Florianópolis, Rafael Greca e Gean Loureiro disputam a reeleição. Em Salvador, o vice-prefeito Bruno Reis lidera as pesquisas. O prefeito, ACM Neto, presidente nacional da sigla, não pode se reeleger mais. No Rio, o partido tenta retomar o comando da capital com o ex-prefeito Eduardo Paes.
Se os resultados das urnas confirmarem a onda positiva, o DEM se recoloca no cenário nacional possivelmente como o mais importante protagonista da centro-direita. O partido terá neste pleito municipal a melhor performance de candidaturas nos últimos 12 anos, ou seja, vai lançar 57,7% candidatos a mais do que em relação a 2016. O levantamento sobre a situação do DEM em todo o país, com projeções sobre o desempenho político da legenda, foi feito pelo cientista político Murilo Medeiros, que em 2017 defendeu sua tese, na Universidade de Brasília (UnB), sobre a história do antigo PFL e a reformulação da sigla em DEM.
Filiado ao DEM, Medeiros fez uma pesquisa acadêmica para “compreender o renascimento da legenda no quadro político nacional, após anos de ostracismo”. Agora, ele prepara um livro sobre o sistema partidário brasileiro, com foco das siglas da direita e centro, como PP e PDS. “Os partidos de centro vão sair maiores em 2020.”
Nas eleições deste ano, o DEM lançou 1.147 candidatos a prefeito – em 2016 foram apenas 727. De acordo com o pesquisador, é a melhor performance do DEM desde 2008. O apogeu eleitoral do partido foi em 1988, há 32 anos, quando venceu em cinco capitais. Agora, para o cientista político, o DEM tem chances competitivas em até sete capitais entre as nove onde disputa.
No grupo dos 96 municípios com mais de 200 mil habitantes, o DEM vai lançar candidaturas em 27 deles, com chances reais, segundo Medeiros, em pelo menos 12. Também neste grupo, o G96, o DEM ampliou em 70% o número de candidatos a vereador. Em todo o país, o partido lançou 30.833 candidatos a vereador, sendo que em 2016 foram 20.421.
Além das quatro capitais em que seus candidatos estão em situação bastante confortável, o partido aposta ainda em surpresas no Recife, São Luís e Macapá, capital onde o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não tem medido esforços para ajudar seu irmão, Josiel. No Recife, o DEM vê chances de o ex-ministro Mendonça Filho – segundo colocado na pesquisa Ibope -, disputar o segundo turno com João Campos (PSB). Mas a candidata petista, Marília Arraes, está no encalço de Mendoncinha, como é chamado no partido.
Em Macapá, João Capiberibe (PSB) lidera a pesquisa com 17%, mas empatado tecnicamente com Josiel Alcolumbre, que tem 16%. A situação em São Luís é bem mais difícil para o candidato Neto Evangelista, que aparece em terceiro lugar na pesquisa Ibope.
Na visão do pesquisador, o DEM “voltará a se sentar na mesa dos grandes”. “Creio que o partido vai ter capacidade e peso para definir a chapa presidencial, seja em composição com governo Bolsonaro, seja criando alternativa de centro-direita. Mas vai ter papel para 2022 de muito maior peso que em eleições passadas.”
Em sua tese sobre a derrocada do partido, o cientista político destaca que o impeachment de Dilma Rousseff e a proximidade do DEM do governo de Michel Temer deram força à sigla no processo de ascensão, mas é somente a projeção partidária alcançada com Rodrigo Maia, na presidência da Câmara, e Davi Alcolumbre, no Senado, que deram poder de fogo ao DEM.
Com ministros no governo Bolsonaro, o DEM insiste em se apresentar como um partido independente, e não oficialmente da base do presidente. Isso, na opinião de Medeiros, assegura ao DEM papel estratégico, pois a sigla “agrega pessoas do centro à direita, passando pelas três vertentes do liberalismo: o social, o mais clássico, e o conservador”.
Por ter sido antípoda do PT ao longo dos últimos anos, com a disputa histórica entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente nacional do antigo PFL Jorge Bornhausen, o partido só volta a ganhar musculatura, reconhece o pesquisador, a partir da “saída dos petistas do Palácio do Planalto”. Pelo fato de ser um partido bem estruturado na maioria das regiões do país, o DEM passou a ser visto como um polo de atração de políticos no momento em que o fim das coligações proporcionais, em vigência neste pleito, impõe uma reaglutinação das forças políticas. “O partido é opção para políticos dispersos em legendas médias e nanicas”, disse.