Democratas estão triturando Trump
Foto: Kevin Lamarque e Reprodução
Os observadores das eleições norte-americanas de 2020 agem como gatos escaldados.
Depois do choque da vitória de Donald Trump e do brexit em 2016, seguido da eleição de Jair Bolsonaro em 2018, ninguém se arrisca a cravar um resultado. Mas quem olhar objetivamente para os dados sabe que a vitória de Joe Biden é cada vez mais provável.
Os institutos de pesquisa aprenderam com os erros dos últimos anos e aperfeiçoaram as técnicas de coleta de informação de intenção de votos. Eles mostram o democrata Joe Biden liderando em estados-chave, como a Pensilvânia, e competindo para vencer em bastiões dos republicanos, como o Texas e o Arizona.
Para o desespero dos republicanos, democratas também estão em condições de conquistar a maioria no Senado.
Encarnação em pessoa do eleitorado de Trump —branco, suburbano e saudoso da prosperidade industrial (Biden é conhecido como “Amtrak Joe”, em referência à companhia nacional de trens)—, o democrata parece invulnerável às agressões do presidente.
Nos bastidores, o ex-presidente Barack Obama e companhia trabalham para mobilizar as comunidades latinas e afro-americanas em eventos virtuais compactos e reservados.
Trump dá a impressão de estar sendo devorado pelo caos que ele próprio engendrou, mas é o sucesso da candidatura de Joe Biden que está por trás da sua desgraça.
Ninguém mais se lembra do Partido Democrata do começo do ano, que mal conseguia organizar as primárias e parecia condenado a uma disputa fratricida entre centristas e esquerdistas.
Logo no primeiro comício, Biden bateu no peito e anunciou que “ele é o partido”. Nos debates, ele e a sua vice Kamala Harris enterraram, pelo menos temporariamente, os sonhos da esquerda, o Green New Deal e a interdição da indústria de gás de xisto, sem temer uma insurreição da turma de Bernie Sanders.
Democratas confirmam que a única receita que funciona contra o populismo é a união de forças e a disciplina das lideranças.
A solidez da campanha de Biden complica os planos de Donald Trump para melar a contagem dos votos e tentar vencer a eleição no tapetão.
Se Biden mantiver a dinâmica positiva até o dia da eleição, Trump terá dificuldades em criar um clima de intimidação e incerteza.
Importante também lembrar que o republicano está cada vez mais isolado. O Exército e o Judiciário não pretendem dar o mínimo respaldo a uma aventura autoritária.
O mercado financeiro já começou a se preparar para uma vitória do campo democrata. Num país psicologicamente esgotado, a presidência tranquila de Joe Biden nunca pareceu tão atrativa como agora.
Trump entrou em campanha com a promessa do “come back”, ou do grande regresso, na saúde e na economia. Mas a pandemia continua rolando solta, e o governo mal consegue aprovar a continuidade do auxílio emergencial.
Neste fim de semana, da sacada da Casa Branca, Trump ensaiou um terceiro “come back”, o do próprio candidato, recuperado da infecção por coronavírus. Se esse novo show televisivo fracassar e Trump não afastar a melancolia da sua campanha, a era populista não terá passado de uma parêntese.