Doria promete vacinar pessoas de outros Estados
Foto: NELSON ALMEIDA / AFP
O governador de São Paulo, João Doria, voltou a subir o tom contra o presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista concedida à rádio CBN na manhã desta quinta-feira, o tucano disse que Bolsonaro é conhecido internacionalmente como negacionista. Segundo Doria, o presidente tem “uma obsessão por ele e pela reeleição”.
— Não foi eu que declarei que (a Covid) era uma gripezinha, não ofereci cloroquina à população e nem à ema do Palácio da Alvorada. Não falei que quem faz isolamento, usa máscara é covarde. Todas essas afirmações são do Presidente Jair Bolsonaro, um notório negacionista, uma pessoa que se notabilizou internacionalmente como negacionista. Eu não faço política com a vacina — afirmou Doria.
O governador também lamentou que Bolsonaro tenha desautorizado seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Na terça-feira, Pazuello anunciou em reunião com governadores a intenção de adquirir 46 milhões de doses da vacina da empresa chinesa Sinovac em parceira com o Instituto Butantan. No dia seguinte, entretanto, Bolsonaro ordenou que a pasta voltasse atrás.
A decisão ocorre em meio a meses de tensão entre o presidente e o governador paulista. De acordo com Doria, a atuação do presidente humilhou o ministro. O tucano destacou que Pazuello foi aplaudido na reunião em que falou, entre outras coisas, que a vacina do Butantan era a “vacina brasileira”.
Doria afirmou ainda que enxerga o presidente com uma predileção por brigas, lembrando de outras polêmicas de Bolsonaro. Segundo Doria, o presidente tem “uma volúpia pela briga”.
— (O presidente) Desautorizou o ministro, humilhou seu ministro desautorizando publicamente. É inacreditável que numa pandemia um presidente coloque esse vértice eleitoral e essa obsessão pela sua reeleição e obsessão em relação a mim — disse.
Doria também tem utilizado a Coronavac como um aditivo político. Mesmo antes da conclusão da fase 3 dos ensaios clínicos da vacina e da análise da Anvisa, o que ainda não ocorreu, o governador chegou a anunciar o início da imunização no estado em 15 de dezembro. O prazo, posteriormente, foi relativizado. O tucano ainda apresentou dados preliminares do último estágio dos testes para atestar a segurança do imunizante, embora cientistas alertem que é preciso aguardar a conclusão dos trabalhos para conclusões defintiivas.
Na entrevista concedida à rádio CBN, o governador afirmou que é possível que pessoas de outros estados que estejam em São Paulo ou venham para o estado tenham acesso à vacinação.
Antes da polêmica sobre a compra de doses da vacina, o presidente Jair Bolsonaro e o governador já tinham se oposto em relação à obrigatoriedade da vacina.
— São Paulo nunca fecha as portas a ninguém. Os hospitais de SP, as unidades básicas de saúde sempre atenderam pessoas de outros estados — disse Doria, que completou: — Seria legítimo e absolutamente correto, além de humanitário, que atendêssemos na vacinação pessoas de outros estados que estivessem aqui ou para cá se dirigissem.
Durante a entrevista, Doria afirmou repetidamente que torce pelas outras vacinas, mas frisou que a desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan é a mais avançada na fase de testes.
O governador, entretanto, evitou falar em cronograma. O tucano já tinha colocado o dia 15 de dezembro como uma possível data para o início da imunização dos profissionais de saúde.
Segundo o tucano, entretanto, após reunião com a Anvisa, decidiu evitar falar em datas. Segundo os técnicos da agência, ele disse, as falas poderiam ser entendidas como “pressão para a aprovação da vacina”.
— A Anvisa nos solicitou isso, entendendo que não era necessário estabelecer uma data e que isso pudesse ser compreendido como uma pressão. Foi de forma respeitosa que decidimos não cravar uma data — afirmou Doria.